Há dias em que sinto que namorar em Lisboa é como tentar arrendar um T1 no Príncipe Real com o meu salário de estagiário: tecnicamente possível, praticamente ridículo. E, enquanto atravessava a cidade no outro dia; naqueles passeios que só servem para nos convencermos de que ainda temos esperança; dei por mim a pensar: será que o amor também ficou gentrificado?
Porque antes, pelo menos na minha imaginação romântica, apaixonarmo-nos era uma coisa espontânea, quase ingénua, um encontro casual que virava história. Agora, parece tudo uma performance silenciosa. Ninguém tem tempo, ninguém tem meios, ninguém tem espaço emocional para grandes obras. O amor virou alojamento local: gira rápido, fica caro, nunca é realmente teu.
Falei sobre o assunto à Vera, e ela disse-me que estou a dramatizar, mas ela fala assim porque está numa fase daquelas em que o amor lhe entra pela porta da frente e não pela de baixo. E é bonito vê-la assim; tão entregue a alguém que, reza a lenda, é para casar. E ela acredita. Ela acredita sempre. E isso é uma qualidade rara, quase património municipal.
E depois havia eu, claro. O solteiro eterno, o coração que paga renda demasiado alta por pouco retorno. É impossível não reparar que o amor, tal como Lisboa, está sempre “em obras”. Nunca está pronto, nunca está barato, nunca está disponível. Quando achamos que encontramos o sítio perfeito, descobrimos que alguém chegou lá antes, contratou obras, redecorou e fez promessa de exclusividade.
Às vezes sinto que procurar amor aqui é como percorrer o Bairro Alto numa sexta à noite: toda a gente parece estar a divertir-se mais do que tu, toda a gente parece ter encontrado o lugar ideal, e tu… tu estás só a tentar não escorregar.
Mas depois penso que talvez o amor não esteja gentrificado coisa nenhuma. Talvez o que esteja gentrificado seja a nossa expectativa. Queremos amor barato, rápido, com vista para o rio e sem compromissos de longo prazo. Queremos emoção sem risco, história sem trabalho, um vínculo que não exija mais do que meia dúzia de mensagens bem escritas.
Enfim, estou a desconversar. No fim da noite, enquanto voltava para casa e via as fachadas antigas iluminadas pela cidade que insiste em ser bonita mesmo quando nos falha, percebi que o amor talvez não esteja caro. Talvez só exija mais do que aquilo que estamos dispostos a dar agora. E, ainda assim, continuo aqui; como quem procura casa: meio cansado, meio iludido, mas com a sensação de que algures entre miradouros, ruas estreitas e corações desalinhados, ainda há um lugar onde eu encaixe.
Comments
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Celeste
nossa! estou estarrecida com a sua escrita. e realmente tudo o que você disse faz sentido, as coisas estão difíceis mas é preciso continuar
omg Celeste hii
by maciel; ; Report
todo o mundo se encontrando no meu blog
by Ângelo Tomás; ; Report