Quando os nossos amigos encontram o amor e nós encontramos… o taxi para casa

Há noites em que Lisboa parece uma dessas cidades luminosas que só existem em filmes; aquelas onde toda a gente encontra o amor menos tu, que ficas com o papel secundário de figurante emocional, sempre em cena mas nunca realmente na história principal. E foi exatamente assim que me tenho sentido quando saímos os quatro: eu, a Eva, a Vera e a Sofia. Elas vêm radiantes, e eu… bem, eu venho só acompanhado pelo meu telemóvel, que é a relação mais longa e consistente que já tive. A Sofia, vi-a recentemente na faculdade, e ela trouxe um chunga com ar de quem tinha acabado de sair de um mantimento duvidoso na Reboleira, mas a felicidade dela era tão sincera que até eu tive de admitir: talvez o amor também viva em sítios onde a probabilidade estatística de encontrá-lo deveria ser zero. E naquele abraço que ela deu ao chunga; tão apertado, tão honesto; até eu senti uma pequena inveja, daquelas que doem mas não fazem ferida. E depois havia eu. Sozinho. Outra vez. O quarto elemento do grupo, o elemento que não combinava com nenhum dos outros três pares. Enquanto eles pediam cocktails a dois, partilhavam entradas, discutiam pequenos gestos carinhosos… eu verificava compulsivamente o meu telemóvel como se ali estivesse a minha salvação. Porque, em certa medida, estava. O telemóvel nunca me deixa sozinho, nunca chega atrasado, nunca me troca, e vibra sempre que eu preciso de atenção; mesmo que seja só por causa de uma subscrição de que me esqueci de cancelar. À medida que a noites vão avançando, percebi que os meus amigos estão a viver a fase bonita do amor... aquela parte suave, luminosa, onde tudo parece fácil. E eu estava a viver… bem, eu estava a viver a fase do taxi, aquele que chega sempre na hora certa, com a melhor música e o melhor silêncio possível. Quando a despedida vem; beijinhos, promessas de novos encontros, mãos dadas a desaparecer pela Av. de Roma; fico ali, parado, por um segundo demasiado longo. Aqueles segundos em que a realidade se instala devagarinho, a ver se dói menos. E foi então que fiz aquilo que sei fazer melhor: pedi um taxi. A viagem foi tranquila, protegida por aquele brilho quente da cidade quando já passou das duas da manhã. E, enquanto via pela janela as luzes desfocadas, dei por mim a pensar: talvez um dia eu também tenha alguém ao meu lado nesses regressos a casa. Ou talvez não. Mas, por agora, há algo estranhamente reconfortante em saber que o meu percurso está, pelo menos, programado. No fundo, talvez não haja mal nenhum em ainda não ter encontrado o tal. Afinal, enquanto os outros vão encontrando o amor, eu continuo a encontrar-me a mim. E, mesmo que às vezes me sinta sozinho, há algo de verdadeiramente libertador em chegar a casa, tirar os mocassins, pousar o telemóvel e perceber: isto sou eu. Isto é o meu momento. E, por agora, chega.


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