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Category: Life

Uma Máquina Datilográfica Sussurra: Carpe Diem!

 Saudações, SpaceHey! 

 Sempre admirei o maquinário datilográfico, desde muito novo quando tive contato pela primeira vez com essas "relíquias-novas". Por fora, costumam ser elegantes, esbeltas e até mesmo (arriscar-me-ei com o termo) sedutoras. De um ponto de vista arquitetônico, claro. Mas por dentro, são todo um universo de engrenagens, molas, parafusos, esteiras, carrilhões, carimbos e et cetera; não sou um indivíduo que entenda ou mesmo compreenda a engenharia de muitas coisas, mas consigo admirar facilmente uma magnum opus tecnológica quando a vejo, e as máquinas datilográficas são a fronteira entre uma realidade completamente técnica e atomizada (a nossa) e uma em que a ciência estava em pérpetua servidão para com os gênios de sua época. Em que o espírito humano era ainda liberto.

 Mas não foi até pouco tempo atrás, um mês talvez, em que, assistindo pela milésima vez "A Crônica Francesa", surgiu-me um quê de entusiasmo em adquirir uma. Explicar com palavras é um tanto prolixo por si só e quiçá sem muito sentido, mas a ritualística de manusear uma criatura metálica dessas, onde o carimbo de prata torna o hábito de escrever limítrofe à pura roboticidade das engrenagens, enquanto permanece, ainda sim, um ato pessoal e carregado de personalidade; isso é uma experiência catártica, embora tão frívola e mundana. É elegante e escárnico nas medidas certas!

 Encontrei uma, ainda guardada em um armazém, estando lá pegando poeira e ferrugem por pelo menos 25 anos. Uma Olivetti Linea 98, que, pelo número de série, parece ter sido fabricada em meados dos anos 1970. Robusta, cerca de 13 kilos. A tinta cinza estava toda desgastada, arranhada e com buracos. Marcações de cola velha em adesivos publicitários de lojas que deixaram de existir há pelo menos três décadas; e por um milagre, ainda funcionava perfeitamente. Eu não fazia ideia de como começar a limpá-la, mas dei meu jeito. Umas boas duas semanas pesquisando, desmontando e aprendendo a domar a fera. 

 Não vou entrar em detalhes sobre esse processo de "revitalização" (precário, devo admitir. É minha primeira aquisição do tipo e eu não tenho os acessórios competentes), mas no fim decidi por pintá-la de verde e pô-la o nome de "Olívia". No fim de tudo, ficou-me uma ideia na mente, uma reflexão talvez: Essa pequena-grande máquina datilográfica foi produzida, projetada, mesmo seu design foi composto, com a finalidade principal de ser utilizada em escritórios, escrevendo infindáveis planilhas e arquivos burocráticos. Um serviço industrial. Tê-la aqui comigo, dando-a vida nova depois de mais de duas décadas parada e esquecida é algo que me traz sentimentos mistos de esperança e nostalgia.

 Decidi por deixar algumas marcas do passado ainda visíveis: Uma carenagem com buracos de ferrugem, de tantas vezes que foi movida com afinco e pressa; um vestígio de esmalte vermelho na tecla "-", provavelmente de uma secretária descuidada que fazia as unhas durante o serviço quando o superior não estava olhando; marcas de caneta enferrujadas nas pautas, certamente de alguém que não queria se esquecer das margens corretas. São todos esses, de certo modo, sinais de vidas que passaram por essa máquina de escrever. São pequenas "crônicas" esquecidas, mantidas apenas por velhas marcas de trabalho. E agora, finalmente, essas passagens do tempo terão alguém para "conversar".

 Datilografarei contente, com certeza. Farei questão de que essa memorabilia de escritório seja daqui para frente um veículo para poemas, contos, cartas e inspiração artística. Um sopro de ar fresco para tempos há muito idos, vividos... Mas nunca esquecidos.

Uma fotografia de como ela se encontra: 

https://imgur.com/a/hE6OI5N


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Comments

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🦇 𝙰𝚔𝚊𝚜𝚑𝚊

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Wow, she looks so beautiful!


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