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Category: Life

Será que estamos danados a ser quase felizes?

Há dias em que sinto que a felicidade está sempre a acontecer noutro lugar. Como se fosse uma festa para a qual todos foram convidados; menos eu. E, mesmo quando chego perto, há sempre qualquer coisa que me falta. Um pormenor, uma promessa que não se cumpre.

Lembro-me de uma noite em que tudo parecia alinhado: a roupa certa, a bebida certa, a companhia certa. E, num piscar de olhos, percebi que não estava realmente lá. Estava a observar-me de fora, como quem assiste a uma novela. E eu não pude deixar de pensar que talvez a felicidade seja isso: uma coincidência fugaz entre o que sentimos e o que achamos que devíamos estar a sentir.


Parece que vivemos presos num estado de "quase". Quase satisfeito, quase apaixonados, quase lá. Compramos bilhetes de ida para a felicidade, mas nunca chegamos ao destino; fazemos escala em lugares que se parecem com ela.

E talvez seja esse o problema: aprendemos a desejar mais do que viver. A medir o que sentimos em comparação com o que achamos que devíamos sentir. O "quase feliz" é o preço que se paga por estar sempre à espera do momentos certo, da pessoa certa, da sensação certa; e, enquanto esperamos, o tempo vai passanddo e a vida vai-se tornando numa sequência de tentativas interrompidas.


O "quase" é confortável, até certo ponto. É um lugar seguro: nem dor total, nem plenitude. É o meio-termo onde ninguém nos pode culpar por desistir, porque tecnicamente ainda estamos a tentar. Mas também é o sítio onde tudo estagna; um limbo emocional onde o contentamento é sempre provisório.

A verdade é que a felicidade nunca foi um estado permanente. É um intervalo, um lampejo. E o problema é que, em vez de o aceitar, tentamos transformá-lo em estabilidade. Queremos que o extraordinário se torne rotina, e quando não se torna, chamamos-lhe de falha.


Talvez a maior ironia de todas seja que, quanto mais perseguimos a felicidade, mais ela se afasta. Porque há qualquer coisa de profundamente humano em achar que só seremos felizes quando tudo fizer sentido; quando, na verdade, a felicidade nunca pediu coerência.

No fundo, acho que ninguém é feliz. Nem é preciso ser. Talvez o segredo esteja em aceitar que a felicidade é uma visita breve; e que o "quase" é, muitas vezes, o mais perto que conseguimos chegar da verdade.


E, pensando bem, há algo de libertador nisso. Porque, se estivermos todos condenados a ser quase felizes, então pelo menos estamos juntos nesta tragédia terrível; a de continuar a tentar, mesmo sabendo que nunca é o suficiente.


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