Fracassar

Há uma certa paz em fracassar. Não no fracasso bonito das histórias de superação; aquele que acaba em TED Talks e lições de vida; mas no fracasso cru, quotidiano, quase invisível. O fracasso que não tem moral da história, nem aplausos. Só o silêncio, e um leve constrangimento.

Porque o fracasso tem isso: um tipo de liberdade que o sucesso nunca vai entender. Quando tudo corre mal, já não há expectativas a cumprir, nem ilusões a manter. Ficamos só nós, despidos de propósito, a tentar perceber o que fazer com o resto. É feio, é desconfortável, mas é honesto.

Às vezes, acho que passamos metade da vida a tentar não fracassar; e outra metade a esconder que fracassámos. Fazemos promessas que não cumprimos, relacionamentos que não resistem, planos que não saem do papel. E, ainda assim, continuamos a fingir que estamos a ganhar. Como se admitir o contrário fosse uma vergonha, quando, na verdade, é o único momento em que somos mesmo reais.

Fracassar também é uma forma de amor-próprio. O amor que sobrevive à humilhação de não ser suficiente. O amor que se recusa a morrer só porque nada resultou. Há uma dignidade estranha em olhar para o chão e dizer: "ok, caí, e agora?"; em vez de continuar a caminhar como se não tivéssemos tropeçado.

Talvez o problema seja que crescemos a ver finais felizes como um destino obrigatório. Como se a vida fosse uma sequência coerente, e não um conjunto de tentativas falhadas que, com sorte, nos ensinam qualquer coisa. Mas e se o fracasso for o ponto? E se a ideia de sucesso for só uma distração?

A certa altura, percebi que tudo o que eu mais temia; o erro, a perda, o ridículo; acabou por me ensinar mais sobre mim do que qualquer vitória. O sucesso nunca me obrigou a olhar para dentroo; o fracasso, sempre.

E é por isso que já nem me preocupo se fracasso ou não. Tenho é medo de não sentir nada. Porque, ao menos, quando fracasso, sei que ainda estou vivo; que ainda me importo o suficiente para cair.

E, num piscar de olhos, acabo por perceber que o fracasso não é o contrário de vencer. É só o que acontece quando a vida insiste em ser vida, e não história.