Cresci com pessoas que romantizavam a falta, entendi que a falta nos tornava mais fortes e sábios. Como meus pais costumavam falar tão honoravelmente desta falta, que ela criava caráter e afins, comecei a aderir a ela. A falta de comida, falta de amor, falta de pessoas, com o passar do tempo vivi as mais variadas faltas e me apeguei a cada uma delas. Porém, ao contrário do que todos diziam, não me tornei mais forte ou sábia com a falta, mas aprendi sobre o quão viciante ela pode ser.
depois que falta vira afeto e se torna mãe, ela vira cuidado. A barriga vazia, a solidão, a tristeza, até mesmo as poucas roupas no guarda roupa, se tornam o correto.
Acho que provar da falta é perigoso porque a vida se torna muito mais fácil quando não se tem mais nada a perder. Aprendi observando pessoas que viviam na rua sem nada que recusavam ajuda para melhorar de vida e também na minha própria experiência que a falta pode ser deveras viciante.
Entrei na falta na tentativa de me sentir menos insignificante e tola, já que na minha família fui a única a nascer sem a tal falta, me sentia tratada como ingênua e tola, usavam de suas faltas passadas pra se vangloriarem e alimentarem o próprio ego, sempre com o peito estufado, carregando por aí cicatrizes como troféus.
Só depois de experimentar e me viciar na gloriosa falta, entendi que não passava de uma farsa. Barrigas vazias não traziam dignidade, solidão não criava foco, nenhuma das faltas deveriam ter sido veneradas, nem por mim nem pela sociedade, mas ai já era tarde demais, já havia me apaixonado por sua simplicidade.
Comments
Displaying 0 of 0 comments ( View all | Add Comment )