Ela se sentou diante de mim no sofá e olhou para o meu rosto com aquela expressão de quem não aguentava mais esperar.
— O que você vai querer de Natal, hein?
— Não sei
— Não há nada que você queira? Algo que você não pediu?
Afastei meu livro e olhei para a mulher à minha frente com cara de questionadora. Olhei pela janela ao meu lado e nada vi além do reflexo da minha própria imagem.
— Não sei… — Disse. Mas na realidade, haviam tantas coisas que eu queria poder pedir que eu seria incapaz de dizê-las.
Não tenho mais aqueles desejos fúteis que eu tinha antigamente. Desejo por brinquedos, ou qualquer coisa material que possa me ser descartável em algum momento da minha vida. Eu desejava experiência, mas não queria ser um fardo na questão financeira. Eu desejava conhecimento, mas já estava tão cansada de absorver tantas coisas ruins sobre o mundo. Eu desejava também liberdade para pensar e agir, mas isso apenas eu conseguiria me oferecer.
Não sabia o que eu queria de Natal. Para mim, estar unida com a minha família era mais do que o suficiente.
Acho que é isso que acontece quando crescemos. Queremos apenas as pessoas que amamos e que nos importamos à nossa volta. Independente de qualquer presente físico que me possa ser dado, acho que o que mais me importava era ter quem eu amo ao meu lado.
“Mas eu já tinha essas pessoas”, disse a mim mesma, “Então porque sinto que me falta algo?”. Pensar era o que mais me trazia felicidade. Pensar o dia inteiro sem parar, conversar inúmeras vezes comigo mesma em minha mente e questionar aos meus próprios pensamentos não era uma tarefa complicada, pelo contrário, houvera de se tornar um prazer imenso para mim.
Então, deixei de divagar em meus pensamentos e olhei novamente para a mulher.
— Não sei o que eu quero — Menti, eu sabia sim — Mal sei escolher presentes para os outros, quanto mais para mim!
Ela me olhava frustrada, querendo uma resposta imediata. Embora eu tenha enrolado meses para dar essa resposta e entendia o motivo do cansaço dela em perguntar a mim o que eu gostaria de ganhar.
Ainda não sei o que quero. Não sei o que quero da vida, não sei que presente eu quero, não sei de absolutamente nada. A única coisa que tenho razão de ter certeza é que eu nunca vou saber de nada que eu quero em momento algum da minha vida, essa dúvida constante vai me seguir até o fim de meus dias e isso é cansativo demais de pensar sobre.
Talvez eu devesse voltar a ser alguém que não pensa, me prender debaixo dos pelos do coelho dentro da cartola ao invés de tentar pular para fora dela como quem eu mais admirava fazia.
As vezes vejo que pensar é ruim demais, me faz ganhar oportunidades demais e no fim, eu acabo realizando todo desejo meu e não sobra mais nada para eu pedir.
Na realidade, acho que pensar é bom. Me deu oportunidades que se eu não aceitasse me arrependeria. As experiências de quase morte valem a pena quando se pensa nas histórias que poderão ser contadas. Mas não tenho certeza disso.
Olhei novamente para a mulher, dessa vez de fato olhando para ela e não para o meu reflexo em seus olhos.
— Sabe o que é? Acho que eu quero…
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