ORLAN - O corpo feminino como arte

Hoje fui ao Sesc da Paulista com a minha mãe, Raphaela e a mãe da Raphaela. Acabamos entrando em uma exposição por acaso e essa era a de uma artista francesa chamada ORLAN. O que me atraiu primeiramente foi a pegada "cyber" que demonstrou no começo, com placas holográficas e um robô bem impressionante da mulher logo no início da exposição. Imaginei que teria como objetivo demonstrar o relacionamento do ser humano para com a tecnologia e como isso nos afetava e nos transformava, nos fundia com o virtual e, dessa maneira, causaria em nós diversos problemas, mas fui pega de surpresa.

Ao irmos para as outras salas percebi que a exposição não era nada do que eu de fato havia pensado. Algumas fotografias interessantes passaram diante dos meus olhos. Vou ser honesta, não é o tipo de coisa que eu tenho o costume de ver, ainda mais arte envolvendo nudez (embora eu, como desenhista, costume usar isso para evoluir na minha própria habilidade), mas achei a forma a princípio de de retratar o corpo feminino interessante e até que gostei da ideia no começo. Não é algo comum ver o corpo feminino nu sendo retratado de uma maneira que não seja tão sexualizada (exceto se as artes forem principalmente mais antigas, ao menos às que me recordo agora não tratam de maneira extremamente clara uma sexualização), então achei isso chamativo.

Bom, fomos andando um pouco até que chegamos em uma parte em que a artista usou de uma gravação de uma cirurgia plástica que fez em si como uma forma de expressão (ao menos ao meu entender). Não faço ideia de como interpretar uma mulher com os lábios abertos e cheios de sangue, não tirei fotos disso já que considero algo que não deva ser compartilhado dessa maneira. É esse momento que me deixou mais desconfortável e me fez repensar sobre o que eu imaginei da artista. A princípio gostei do que eu estava vendo, por algum motivo as fotos e o estilo em que as coisas eram demonstradas me lembraram o Kubrick (talvez apenas Laranja Mecânica pela questão do corpo feminino nu), mas depois acho que o processo artístico desandou. Quero dizer, eu particularmente não vejo motivo algum para compartilhar o vídeo de você fazendo uma cirurgia plástica com um público, não é agradável de se ver. Não consegui compreender qual foi a real intenção da artista ao compartilhar isso. Pensei que poderia ser alguma crítica social envolvendo estética, mas se de fato fosse, por qual razão ela faria uma ação estética em si mesma? Se ela estivesse julgando esses procedimentos e a indústria que crítica quem não os faz, por qual razão ela estaria os fazendo? Talvez esse tenha sido o objetivo dela, nós fazer questionar justamente a razão dela ter desejado compartilhar seu rosto cheio de cortes e remendos. 

Acredito que essa manifestação poderia ter sido feita de uma forma melhor. A maneira brutal com que foi apresentada às vezes não me parece a melhor, principalmente quando se tem relativa dificuldade para entender o que de fato o artista quis demonstrar.

Não serei hipócrita de dizer que o objetivo principal, que era chocar o público, não foi concluído. Mas acho que foi manejado de maneira ruim. Ela teria um assunto ótimo para se falar (a questão da feminilidade e do corpo feminino poder ser usado para expressar o que quer que fosse), entretanto manejou de uma maneira não tão boa. Talvez eu esteja sendo levemente (ou bruscamente) conservadora (não nego que quanto à certo tipo de arte posso ter uma visão conservadora e até compreendo o motivo disso, acredite, estou tentando abrir meus horizontes), mas quando noto algo que não me agrada tenho que falar um pouco sobre isso.