Minha Ultima Carta

Há coisas que são eternas, imutáveis para um mero ser humano como eu. Um esboço de um destino que me perseguia insistentemente durante esses anos tentando preencher o vazio. Mas a luxúria é um ápice distante, um remédio a curto prazo e intoxicação crônica.

A verdade é que, no fim de tudo, eu sou apenas uma criança que brinca de ser autor, que finge saber usar palavras, e mente conscientemente à si mesmo sobre isso. Escrever foi uma das únicas formas saudáveis que encontrei para lidar com minha fantasia infantil somada ao meu trauma - minha paixão somada ao meu medo.

E após esses anos de luta em vão, num ciclo entediante de destruição, concluí que para construir uma nova obra é necessária a demolição completa. Para me tornar a pureza e ingenuidade que flutua serenamente sobre meus caos, é preciso poluir. É necessário morrer e apodrecer antes de renascer e resplandecer.

Minha alma, condenada à constante busca pela arte, pelo eterno romance, não é atraída por nada além de minha miséria, da minha pateticidade e piedade. Sempre ansiando por um espetáculo perigoso, por algo que o senso comum não poderia compreender; por sangue, por cortes, por morte. Eu sou o poeta que escreve na ponta da lâmina e um pintor que desconhece qualquer outro tom, senão o vermelho sangue. Um problema precisa ser reduzido e destruído, antes de reformulado e apreciado.

Nico Murder - 15/06/23