Não lembro exatamente como tudo começou. Só lembro da minha prima falando que queria
fazer cursinho para tentar o CPM ou o CMC, e da minha mãe, animada com a ideia, me
colocando junto. No fim, fui eu quem passou, e ela não. Guardo com clareza a sensação
estranha de ter ido bem na prova, e do meu irmão, escondido da família, olhando o
resultado antes de todo mundo, com aquela certeza teimosa de que meu nome estaria na
lista.
O primeiro ano foi leve, divertido. Fiz amigos de todos os cantos de Curitiba, e o colégio
parecia enorme, cheio de possibilidades. Mas, sinceramente, tenho certeza de que, se não
fosse pela pandemia, eu não teria ficado até o final do ensino médio. Eu detestava a farda,
o calor sufocante, a boina e o cinto, aquela sensação de desconforto constante.
E, mesmo assim, o que realmente me marcou foram alguns dos piores momentos.
Especialmente o terceirão. Acabei presa numa sala onde me sentia deslocada, observada e
estranhamente sozinha. Eu chegava em casa chorando quase todos os dias, dizendo para
minha mãe que não precisava mudar de sala, que eu daria conta, que eu aguentaria. Mas
não aguentei. Com o diagnóstico de depressão e o início do tratamento, precisei mudar.
E foi nessa mudança que algo em mim começou a respirar de novo. Minha nova sala me
acolheu de um jeito que eu jamais poderia ter imaginado. Se eu soubesse o quanto aquilo
faria diferença, teria tomado essa decisão muito antes. E, apesar de tudo, guardo memórias
boas também. Como ir na inspetoria no intervalo pegar bolacha e chá escondido dos
militares. Fazer parte do Estado-Maior e desfilar de farda de gala na frente do terceirão e ter
alguns amigos incríveis, que se eu não levar para vida, levarei no coração.
Sempre que via a bandeira descer ao toque da corneta, sabia que seria essa a primeira
recordação quando pensasse no colégio e é assim que me despeço do CPM: ao som da
corneta, na minha última semana de jogos internos. Ouvindo aquele som que sempre me
fez gelar por dentro, anunciando que eu estava atrasada, que a formatura logo começaria. A
bandeira do colégio descendo marcando oficialmente o fim de um ciclo que, por muito
tempo, achei que jamais terminaria. E, ao mesmo tempo, abrindo espaço para o início de
outro, e se tudo der certo fora do país.
Hoje, quando penso naquela menina voltando da prova, certa de que tinha ido bem, queria
dizer a ela que tudo o que ela viveria seria intenso e incrivelmente inesquecível. Que ela
estaria ganhando a oportunidade rara de se tornar alguém de verdade. Porque, no fim das
contas, acho que foi isso que o colégio fez comigo: me tornou alguém. Alguém mais forte,
mais sensível, mais consciente de si mesma.
E esse alguém que eu me tornei… se olhasse para trás e encontrasse a menina do sexto
ano, diria que valeria a pena. Diria que, mesmo com tudo, ela estaria feliz por ter vivido e
reviveria cada capítulo dessa história dentro do colégio.
Com meu coração mais aberto do que nunca, Uma vez CPM, sempre CPM
Natália, dezembro 2025
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