não me levem a mal pelo título, eu amo escrever. Mas as vezes é um saco.
quando eu era criança, eu sempre buscava por algum dom em mim, alguma qualidade de verdade. Eu me sentia completamente inútil, tipo, pra caralho. Eu sentia que eu nunca seria bom em nada, que eu nunca iria me encaixar. Eu tentei desenhar, tentei tocar instrumentos, tentei achar alguma habilidade única mas nada. Eu não tinha nada de especial, eu não sabia fazer nada. Era completamente inútil, algo abaixo do comum. Como pode alguém existir sem saber fazer absolutamente nada??? Então eu me encontrei na imaginação. Sempre me disseram que eu era criativo, saca? E eu sabia disso. Era a unica coisa que eu tinha. Pra uma criança que cresceu sem poder sair de casa, a imaginação era uma dádiva. Eu gostava de criar, era divertido. Mas nunca consegui desenhar, então me achei sem talento. Fui aprender a ler muito tarde, oq significa que também demorou pra eu aprender a escrever, mas quando aprendi, oh. Aí sim eu me encontrei.
Lembro acho que da primeira vez que percebi que eu tinha talento pra coisa. Era uma aula do fundamental onde a professora pediu pra criar uma história, creio. E eu mandei MUITO bem! Ela até leu pra sala toda. Eu fiquei todo orgulhoso de mim mesmo. Desse dia em diante eu percebi que era um bom nisso, só não sabia exatamente oq era isso. Eu achava que eu só tinha uma boa imaginação, e não que eu era bom com palavras também. Achei que se algo exigisse imaginação, então eu tiraria de letra. Não foi muito assim. Eu fui me encontrar na escrita MESMO na pandemia, creio. Quando vi pela primeira vez Doki Doki literature club. AI SIM eu percebi o quanto gostava daquilo, da escrita. Eu queria fazer o que elas faziam. Poemas tão bons quanto aqueles. Eu queria criar palavras que fizessem sentido, que demonstrassem sentimento. Queria, como Yuri disse, achar o meu estilo de escrita. Ah, e como achei. Daquela época em diante, passei a escrever poemas. Não eram bons, hoje em dia são péssimos, mas alguns demonstravam sentimentos, alguns carrego até hoje, e alguns viraram personagens, como o poeta — alguns poemas do poeta estão presentes nos meus blogs — mas mesmo assim eu não achei que tinha me encontrado totalmente. Foi então que virei leitor.
Quando peguei o primeiro livro depois de criança foi quando percebi o quanto gostava da literatura. Eu passei a ler frequentemente, devorar palavras e mais palavras. Até que a leitura era tudo o que eu tinha — Esses dias mesmo eu ouvi minha mãe dizer ao meu irmão: "o que você acha que *** tem que realmente pertence a ele? Nada! Apenas os livros. Tudo o resto veio de alguém." os livros são tudo o que eu possuo. — Eu passei a desejar mais. Desejar ser como eles, os escritores. Quis escrever folhas e mais folhas, criando meus próprios universos. E eu fiz isso. Eu criei, escrevi e publicarei. E então vem a frustração.
Eu sou bom na escrita, sei que sou. Ganhei o concurso agrinho ano passado. Tenho confiança que sou bom nisso, mas não no resto das coisas que um livro precisa. Não sou bom em desenhos, não sou bom em divulgação, não sou bom em falar. E isso são coisas essenciais para um livro, e eu não os possuo. Como posso querer ser um autor sendo que nem sei tirar uma foto? Como posso querer publicar algo sendo que arrasto meus amigos que conseguem desenhar para me ajudar nisso? Eu sequer sei como pública algo, sequer sei se vou conseguir. O livro será lançado mês que vem e até agora ele não tem uma contra capa e uma lombada! E a sinopse nem se fala. As vezes me sinto preso demais a minha criação. Não consigo mais ler desde que acabei de escrever. Não dá. Parece que as palavras não estão mais se encaixando em mim. Eu pego os livros, mas eles não sintonizam comigo. Não me pertencem mais. Perdi a única coisa que me pertencia, perdi o que fazia eu ser eu. Eu não escrevo mais sobre o poeta, não escrevo mais desde que acabei de escrever meu livro. Não leio e nem crio mais. Estou numa zona morta que não consigo sair. Eu fico falando que vai melhorar quando eu publicar o livro, mas não tem como eu saber disso. E se tiver defeitos horríveis? E se eu estive enganado todo esse tempo e na verdade não for bom? E se na verdade eu nunca fui bom em nada? Eu serei uma fraude. Eu quero criar. Quero ser lido. Quero ser visto. Quero ter o que eles tem. Mas eu não sou bom o bastante pra isso. As palavras foram arrancadas de mim, parece que eu nunca irei as encontrar novamente. Eu quero criar, quero pegar num lápis, quero abrir um novo documento. Quero virar a página. Isso é um saco. Todos avisaram que seria difícil, e está mesmo sendo. Eu só... quero sentir que eu realmente sou um escritor. Quero sentir que eu estou fazendo direito. Ao menos existe um jeito certo de fazer isso?
Falta um mês. Só um mês.
as vezes, eu queria ter outro talento.
e as vezes, eu queria ainda ser aquele garoto que começou a escrever poesia.
Comments
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✧ tr4sh_r4tty ✧
Acredito que todo artista passa por essa fase em algum ponto. É muito difícil separar o processo de criar do que a gente é como pessoa e entender que se algo der errado no caminho, não define o que a gente é de verdade.
Você é um escritor, consegue expressar claramente o que sente através da palavra. Eu sinto sua dor e angústia daqui, e não, não tem jeito certo, existe o seu jeito, o que te faz ser o escritor que você é.
Continue persistindo, espero ler suas obras no futuro.
hoje eu fiz muito progresso, a capa está quase pronta, falta só as orelhas, e acabei a última correção. Agora é só mandar pro ISBN e publicar... acho que ainda não caiu a ficha!
by Y3k_Nath; ; Report
𓂀 Lycan
eu tb sou sou escritor e eu me identifico mto com o que vc escreveu! o meu maior desejo como poeta é q minhas palavras consigam verdadeiramente alcançar o leitor, q a minha arte consiga fazer o mundo de alguém parar nem q seja por só um mísero segundo. o pior desafio q eu tenho q enfrentar enquanto artista é definitivamente a síndrome de impostor. é horrível escrever com o peso da incerteza da qualidade da minha arte, com a preocupação de que minhas palavras não tenham substância. eu fico tão ansioso q eu acabo não escrevendo.
oq eu aprendi sendo artista a mais de 10 anos é que não importa o perrengue q vc passa, vc TEM QUE continuar criando. não importa se vc acha q sua arte é ruim, o importante é continuar tentando. o sofrimento faz parte da vida do artista, no pain no gain!!!
uma hora as mágicas da escrita e da leitura vão voltar pra vc. esses momentos fazem parte do processo criativo <3