As meninas - Lygia Fagundes Telles

Oi gente……. sou eu de novo….e é da fuvest dessa vez. Gente, estou muito revoltada, pois, já era pra ter publicado sobre esse livro a um século, pois, eu li ele faz muito tanto, tanto que eu já li outros dois livros também kkkkkk (então era pra ele ter ido com a nota do webfólio passado (oi prof, essa é pra você)), mas como não postei, vai ser agora que vocês vão ouvir sobre a incrível vida de Ana, Lorena e Lia. Aproveitem!!


Quem foi Lygia Fagundes Telles?


Lygia Fagundes Telles foi umas das escritoras mais preocupadas com a denúncia da opressão imposta pelo patriarcado, privilegiando o olhar feminista de suas protagonistas. Sendo uma renomada escritora brasileira, cujo legado literário encanta gerações, uma de suas obras foi escolhida para ser obra obrigatória da FUVEST esse ano (“As Meninas”). Reconhecida por sua narrativa envolvente e sensibilidade na abordagem de temas humanos, seus livros atravessam o tempo, mantendo-se relevantes até os dias atuais. Sua trajetória de vida e seu legado na literatura brasileira tornam Lygia Fagundes Telles uma figura icônica e inspiradora para gerações de leitores, escritores e intelectuais do país e além de suas fronteiras. 

Ao longo de sua carreira, ela publicou uma vasta quantidade de trabalhos, incluindo romances e coleções de contos, que lhe renderam inúmeros prêmios e reconhecimentos tanto nacional quanto internacionalmente. Além de suas realizações literárias, também era conhecida por sua postura engajada em relação às questões sociais e políticas do Brasil, tendo, em diversas ocasiões, se manifestado em defesa da liberdade de expressão e da justiça social.

           


As meninas (segue muitos spoilers da obra)


Esse romance fala sobre três amigas - Ana Clara, Lorena e Lia - que vivem durante o período ditatorial, no ano de 1973. Cada uma vive uma realidade diferente, porém, estão todas ligadas de alguma forma. 


Lorena Vaz Leme é magra, com seios pequenos e voz fina, que estuda Direito e é a “riquinha” do grupo, a burguesa. Ela vive num quarto com dourados e rosas. Sempre está esperando o telefonema improvável de Marcus Nemesius, vulgo M. N., ginecologista casado, peludo, mais velho e com cinco filhos, que vive numa situação deplorável onde tenta restabelecer o próprio casamento e expressar sentimentos por uma jovem universitária. De certa forma ela inventa essa paixão platônica para se sentir segura, além de viver vangloriando-se de sua virgindade. Ela ama sua família, porém, o seu pai foi diagnosticado com um problema de memória e, por isso, sua mãe o internou, tomando todas as suas riquezas e relacionando-se novamente com outro homem, porém, mais novo. Sua mãe coexiste com um problema de aceitar e não aceitar a sua idade e, devido a isso, passa por diversos procedimentos estéticos para permanecer “jovem”, além disso, a tia de Lorena vive dizendo que sua mãe estava prestes a sofrer um “golpe do baú”. Além de deixar em aberto a morte de seu irmão Rômulo, visto que, sua mãe conta uma versão diferente de sua (a mãe também não era boa da cabeça), o seu irmão Remo vive mandando presentes para ela. Ela é aquela amiga que ambas as outras pediam coisas emprestadas, como dinheiro, perfume, roupa, maquiagem, carro e ela entregava sem pensar duas vezes, já que não faria falta.


(Lorena louca apaixonada por um homem casado e velho)


Lia, que recebia o codinome de “Rosa” ou era chamada pelo apelido de “Lião” dado por Lorena, era estudante de Ciências Sociais, é apelidada de “comunista”, já que era uma das militantes mais presentes do grupo. Corajosa, é filha de mãe baiana negra com pai alemão berlinense que fugiu do nazismo, já que não o apoiava. Segundo Lorena, “as proporções gloriosas herdou da mãe, proporções e cabeleira de sol negro desferindo raios por todos os lados”. É apaixonada por Miguel, outro militante, e, na adolescência, teve uma relação com uma garota. Lê milhares de jornais, fazendo recortes importantes, participa ativamente da resistência política contra a ditadura. Ela sempre pede as coisas emprestadas para Lorena, principalmente o carro de sua, já que o grupo de militantes que ela fazia precisava, muitas vezes, de um veículo para as emboscadas que eles faziam. Além de sempre criticar as decisões das amigas, sempre com um viés filosófico, adorava ler livros, tomar chá que sua Lorena fazia e comer biscoitos com ele.



Ana Clara, também conhecida como “Ana Turva”, seria a mais “avoada” do grupo. A mais bonita de todas e também a que mais saia com caras desconhecidas e transava. Era a mais desejável, mas não conseguia sentir desejo. Ela cresceu sendo sempre considerada muito bela para sua idade e isso a fez passar por diversos percalços, como ser constantemente abusada pelo seu dentista, o que a deixou com traumas severos e desencadeou diversos problemas psicológicos nela. Esses estigmas mentais, que assolavam ela constantemente ao ponto dela até dizer que sentia como se tivesse um rato fazendo “Roque Roque” em sua cabeça, fizeram com que ela recorresse a diversos remédios, beber muito, a fumar nicotina e injetar drogas em suas veias. Porém, ela já não sentia mais o mesmo efeito deles, o que a fazia ficar com raiva, pois, não calava as “vozes” de sua cabeça. Além disso, ela também achava que estava grávida de seu namorado um traficante, conhecido como Max, que a chamava de “Coelha”. Ela alegava que ele era o amor de sua vida, porém, como ele havia perdido toda a riqueza que ele tinha e sua irmã estava internada num hospício, ela disse para ele que iria casar-se com seu noivo asqueroso que, segundo ela, era um velho horroroso que não se importava com nada além de viajar, o que para ela era maravilhoso, já que, ela só queria sair da pobreza, destrancar a faculdade de psicologia e se formar, trazendo um novo ano maravilhoso.


 

 (Ana Clara e Lia com a amizade linda delas)


No fim do romance, a narrativa, que antes era pessoal e em primeira pessoa por cada uma das meninas, com uma perspectiva diferente para cada, acaba se juntando em uma só, devido ao clímax da obra: a morte de Ana Clara. Ela chega muito machucada, após uma noite com um desconhecido que havia a levado para seu apartamento, enquanto estava bêbada. Lorena preocupada ao ver ela toda suja, retira suas roupas e a leva para tomar banho, após isso, ela a repousa na cama para Ana descansar e a deixa, enquanto logo após pula a janela para ir para o quarto de sua colega Lia. Lia estava arrumando a mala que havia pego com a mãe de Lorena, que havia emprestado roupas de frio, já que Lia iria fugir para Argélia com Miguel, que era um dos 14 presos soltos devido ao sequestro do embaixador Charles Elbrick. Quando ambas retornaram para o quarto percebem o estado imóvel do corpo de Ana, que havia falecido de overdose. O desespero em Lia é imenso e Lorena tenta manter a calma e massagear o peito frágil e pálido do corpo. Elas não conseguem trazer Ana clara de volta a vida, dessa forma, Lorena tem uma ideia incrível de arrumar o corpo da falecida, como se estivesse saído de uma festa e deixá-lo descansando numa praça muito “linda” o que, segundo ela para Lia, seria a última e a única coisa que Ana iria querer que elas fizessem. E assim foi feito. Ambas carregaram o corpo morto e todo pintado, arrumado e perfumado de Ana Turva para uma praça e deixaram lá, retornando para o pensionato, cada uma tomando seu rumo: Lia indo para Argélia e Lorena tomando banho para estudar para sua prova da faculdade.



  (eu escrevendo a análise)




Análise


O romance tem um início leve e julgando ser este o percurso, sem qualquer intervenção política, a crítica autorizou sua publicação. Porém, é apenas a partir da metade do romance que podemos notar, mais abertamente, um rápido desenvolvimento da temática da repressão política, que é abordado pela autora ao dividir o foco narrativo entre as três personagens distintas, com histórias de vidas distintas, que, ao conviverem em um pensionato católico para frequentarem a universidade, constituem cada uma um pedaço da história do Brasil, do momento apresentado na obra. Consequentemente, cada uma das três personagens centrais percebe o momento histórico em que estão inseridas de modos diferentes: desde a alienação voluntária, característica da burguesia, representada por Lorena, passando pela contestação do regime e tentativa de resistência da esquerda, representada por Lia e, finalmente, culminando na total indiferença ao momento, fomentada pela miséria e pelo uso de drogas, por Ana Clara.

Em As Meninas, temos a crítica em relação a figuração da burguesia estilhaçada: sua representante na obra, Lorena, reflete, por meio de devaneios, sobre os tempos de glória de sua abastada família. Lorena Vaz Leme é filha de fazendeiros e descendente de bandeirantes. O pai, Roberto, faleceu há anos, internado em um sanatório, sucumbindo à sua própria insanidade. A mãe também demonstra traços claros desta insanidade, em uma conversa com Lia, quando esta vai buscar algumas roupas para levar para a Argélia, em que divaga sobre sua relação platônica com seu psiquiatra que acabara de morrer. Após a morte do pai de Lorena, sua mãe casara-se novamente com um homem mais jovem, apelidado de Mieux; posteriormente ela percebe as divergências da idade e toma consciência de seu envelhecimento por não conseguir acompanhá-lo. 


Há também, aqui, um contraste entre Lia: uma fusão entre Bahia e Alemanha nazista, que exprime seu nacionalismo por meio de manifestações culturais locais; e Lorena, que herda de sua classe social a repulsa por sua própria cultura, por crer na superioridade da cultura estrangeira. Lygia constrói a personagem Lia como meio para denunciar todo o mal que aquele regime causava à sociedade. Lia relata os fatos ocorridos com seus amigos e demonstra revolta diante dos casos de tortura e das mortes de seus amigos de luta. Além disso, o auto-exílio que ela fez para a Argélia foi algo comum e adotado por outros esquerdistas da época da ditadura. Através da personagem Lia nós conseguimos enxergar essas mulheres que contribuíram positivamente na luta contra a ditadura. É importante destacar que, além da luta contra a ditadura, o discurso de Lia apresenta falas que vão de encontro ao patriarcalismo e autoritarismo da época. Apesar de não ter feito parte de nenhum grupo do movimento feminista, Lia enfatiza vários questionamentos sobre o papel da mulher na sociedade.

Além delas temos Ana Clara que desde muito jovem, sofre com a vulnerabilidade econômica, vindo de uma família desestruturada, o que a leva para o mundo das drogas e constrói nela a ganância por se tornar rica, mesmo que para isso seja necessário casar com um homem mais velho.  Neste ambiente que cresceu foi onde desenvolveu sua personalidade, que quando jovem ela passa a ser exposta por seus relatos e de terceiros, onde pode ser definida como, uma pessoa que mente com frequência em diversos aspectos, para conseguir o que quer. Ao final torna-se difícil para o leitor distinguir a verdade da mentira, e até mesmo das alucinações. Em diversos momentos ela narra instantes que viveu que foram traumáticos. Momentos estes, vividos com o Doutor Algodãozinho. Ele é bastante citado como sendo o seu primeiro abusador, quando ela recorda dos momentos no dentista. A dificuldade para ter relações sexuais é citada pela própria personagem, que quando estava sóbria, tinha sua sexualidade afetada, e afirmava não sentir nada com ninguém, nem com o próprio amante que seguramente dizia amar, isso ocorria devido aos estresses traumáticos que teve em sua infância. Além disso, em suas diversas alucinações, é possível analisar referências que ela faz com sua vida real como o “roque roque” na sua cabeça e isso ser provocado por um rato, talvez, faz referência ao hábito constante que Lia havia de roer as unhas, além das baratas que ficavam em sua “sopa” e davam oi para ela.

É importante destacar a sororidade existente entre ela e as outras duas personagens principais, Lorena e Lia. As personagens, no geral ,se apresentam de forma passiva diante da luta de Lia e seus amigos contra o regime. Ana Clara, por ter tido uma infância muito conturbada precisa conviver com diversos traumas e se preocupa apenas com seus trabalhos como modelo, em fazer sua cirurgia para restituir sua virgindade, para casar com um homem rico e Lorena que, mesmo não participando da luta, se preocupa com Lia e seus amigos. Além de se preocupar e entender a luta de Lião e seus amigos, ajuda a amiga, mesmo que indiretamente, seja com o empréstimo do carro de sua mãe ou doação em dinheiro, 

O ápice da união entre as três se dá no momento em que Ana Clara morre. Aninha precisava conviver com os traumas de sua infância e, diante disso, ela se entrega às drogas e vem a falecer vítima de overdose. Lia que durante toda a narrativa se mostra forte e resiliente, no momento da morte de Aninha se desespera e se preocupa em como irão tirar o corpo do local, visto que ela faleceu no pensionato onde residiam. Além disso, o ocorrido seria um risco para Lia. Lorena entende o risco que a morte de Ana Clara causaria e o escândalo que seria caso o corpo fosse encontrado no pensionato. Assim, ela surpreende positivamente pois, durante toda a narrativa, Lorena sempre se apresentou muito frágil. Porém, diante da morte de Ana, ela se mostra calma, forte e estratégica, quando decide que elas iriam tirar o corpo de lá, arrumando ele da forma que Ana gostaria, sem causar problemas para Lia e nem para o internato. Isso mostra como todas estavam muito ligadas e engajadas a se ajudarem sempre, até nos momentos mais difíceis.




E é isso por hoje gente!!!!! Espero que vocês tenham gostado da história dessas três louquinhas, cada uma do seu jeito. Bom, vão vir mais resumos de livros, porém, com novidades! Não vou dar spoiler... aguardem os próximos blogsss. 


Fiquem bem e se cuidem,

beijinhos,

Isinha.




   



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