Preencho o rascunho de uma história que me dediquei há uma vida inteira, e então vem as rasuras.
rasuro o nome do personagem.
rasuro aquela escrita patética.
arranco a página cheia de rasuras e a jogo no lixo.
escrevo em um post It amarelo a palavra: "incompleto" e a colo na frente do espelho.
pego outra folha, convencido a não rasurar nada desta vez.
a caneta transborda tinta, parada há tempo demais.
o buraco negro suja a página novinha em folha,
aquela folha branca, totalmente aberta para novos mundos, agora não passa de uma grande rasura.
eu a pego e a colo no espelho, ao lado do post It amarelo.
aquela mancha negra parece formar a palavra "falho".
o espelho parece refletir desgosto. Eu o quebro com meus punhos.
punhos estes, que eu usava para segurar a caneta.
as palavras não saem
apenas o sangue laranja.
deixo as gotas laranjas caírem em uma nova página
e a jogo pela janela.
E se alguém lá embaixo conseguir achar está página, conseguirá ler a palavra em laranja vivo:
"autor."
Comments
Displaying 0 of 0 comments ( View all | Add Comment )