perdão é só uma palavra quando a pessoa que você feriu vai carregar sequelas pra sempre.
não adianta. não adianta a pessoa ferida dizer que esqueceu, que superou, que tá tudo bem, porque nunca vai estar. por mais que ela negue, por mais que sorria e siga em frente, ela sempre vai estar agindo conforme as consequências daqueles atos. sempre. cegamente.
é como uma linha invisível puxando as reações, as decisões, os medos. a dor vira reflexo, vira defesa. e o que parece exagero pra quem olha de fora é, na verdade, o corpo tentando não sangrar de novo no mesmo lugar.
o perdão pode até existir. pode até ser sincero. mas ele não apaga a memória do que aconteceu. ele não reconstrói a confiança com a mesma facilidade com que foi destruída. porque tem coisas que quebram a gente de um jeito que nem o tempo consegue colar direito.
e o mais cruel é que quem causou a dor talvez nunca perceba o tamanho do estrago. talvez ache que passou, que ficou no passado. mas pra quem sente, o passado não passa. ele se esconde nos detalhes, se disfarça de precaução, se instala nos silêncios.
alguns perdões são só formas educadas de dizer: “eu continuo aqui, apesar de tudo, mas eu nunca mais serei a mesma.”
às vezes é tudo meio confuso. porque, às vezes, mesmo quando a pessoa que te machucou pede perdão e você diz que perdoou… a verdade é que, por dentro, você não aceitou. e isso talvez faça parte de quem eu sou. talvez eu simplesmente não consiga seguir em frente sem levar a dor comigo. talvez eu nem saiba mais quem eu seria sem essa dor.
a verdade é que eu não esqueço. as atitudes ruins das pessoas ficam em mim. mesmo que o tempo passe, mesmo que eu tente seguir, mesmo que eu diga que tá tudo bem... não tá. e o mais estranho é que, às vezes, eu acabo esquecendo justamente o que era bom. ou pior: uso o que foi bom como desculpa pra justificar o que foi ruim. como se as partes bonitas validassem o estrago, como se eu tivesse que aceitar o pacote completo, o carinho e o descaso, o cuidado e o abandono.
e nessa lógica torta que eu crio dentro de mim, acabo me vendo não mais como a pessoa ferida, mas como alguém que merecia aquilo. como se tudo de ruim que fizeram fosse só reflexo do que eu sou, como se eu fosse difícil demais, frágil demais, errada demais. e talvez essa ideia de que essa culpa que eu carrego seja parte de mim também. esteja cravada fundo demais pra sair.
eu não sei qual é a solução. juro que não sei. porque, mesmo depois de tanto tempo, eu ainda me pego revivendo tudo. pensando nos momentos bons, e eles existiram, mas lembrando também de como, mesmo nos bons, havia sempre uma sombra, um preço, um desconforto escondido. era como se nada fosse inteiramente leve. como se até o afeto viesse com espinhos.
e é nisso que eu fico: nesse vai e vem entre memória, mágoa, culpa e silêncio. tentando entender se dá pra seguir em frente sem se perder. tentando entender se algum dia eu vou conseguir olhar pra trás sem sentir que tudo me quebrou um pouco. tentando entender, no fundo, se ainda tem alguma parte minha que não foi feita de cicatriz.
Comments
Displaying 0 of 0 comments ( View all | Add Comment )