Polaris
O medo da noite ressoava como uma sombra constante - não apenas o temor do escuro, mas a angústia do firmamento, do tempo e dos astros que a governam. A cada estrela que surgia, o presságio de uma força superior, incompressível e gélida. O morador daquele lugar escolhia os dias nublados: um véu espesso que escondia o firmamento e abafava o sentimento de insignificância cósmica.
Não existia paz sequer ao amanhecer; até a frágil promessa solar gerava desassossego. Aldebarã rubra, constelações apagadas, nomes esvaídos - vestígios de uma cartografia celeste indecifrável, que mais desnorteia que guia. O espaço vira um labirinto, um sonho ruim sem som.
E aquela língua esquisita, impossível de entender. Um lugar onde as palavras parecem barulho, e a cidade - Alathoa - mostra-se como cenário de uma existência perdida, sem rumo. Apenas o gelo, o pavor, a convicção de que naquele lugar não existe refúgio.
O que parecia um sonho podia ser uma vida diferente, outra época. Ou só um reflexo torto da própria cabeça - quem ousaria afirmar?
A destruição veio com os demônios baixos e amarelos: imagens bizarras e ridículas, invasores que avançam sem dó. Dez homens para segurá-los - em vão. A cidade feita para cair, para ser esquecida.
E a estrela, antes tão admirada, virou uma sentença. A estrela polar - vigia eterna, parceira cruel. Quando finalmente ela se apagar, talvez acabe também o fardo de lembrar.
"Dorme, guarda, até as esferas
Terem rodopiado mil eras
E que eu arda ao voltar
Onde agora é o meu lugar.
Novos astros vão chegar
Para no céu se instalar;
Astros que louvam, acalentam
E o suave olvido implantam:
Só quando encerrar o meu giro
O passado inquietará teu retiro."
O último grito, um pedido aflito para acordar. Mas... será que foi só um sonho? Ou o ressoar de um erro, de uma falha sem conserto que não para de se repetir?
Sem repostas, apenas o desconforto: e se aquilo que chamamos de sonho for, na verdade, o verdadeiro mundo?
Escrito por quem caminha entre estrelas que jamais deixam de vigiar - nem quando os olhos se fecham.
Publicado originalmente em dezembro de 1920, na revista The Philosopher.
Escrito por H. P. Lovecraft em maio de 1918.

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