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Category: Dreams and the Supernatural

Sombra - Uma Fábula E. A. Poe

 Sombra - Uma Fábula



A aproximação a Sombra - uma fábula se dá com uma inevitável sensação de agonia: personagens e descrições se adensam, grotescos e trágicos, mas não há como evitá-los, nem como ignorar a sua relevância.


O ano era de terror sobre o mar e a terra, sob um céu doente, pesado, quase insuportável. Havia quem pensasse numa alteração cósmica, uma perturbação entre planetas, um eclipse que afetasse o sol e a alma dos homens. Outros talvez percebessem ali apenas a materialização mais concreta do mal: a peste, o miasma invisível que pesa sobre os ombros e sobre os dias.


O peso era maligno e real, uma opressão que se insinuava até mesmo na textura das palavras. O vinho parecia sangue, espesso, denso, lembrando que naquele espaço a vida e a morte estavam separadas apenas por um fio.


Zoilo estava morto, sim, o corpo amortalhado no mesmo ambiente em que sete figuras se mantinham reunidas - entre o horror e a resistência. A peste o deformara, e não apenas ele: todo o tempo parecia distorcido, todo o espaço parecia entregue a uma decomposição inevitável.


Depois da canção, ergue-se uma sombra indefinida, vinda de trás das cortinas - um detalhe que permanece envolto em dúvida: seria uma presença que irrompeu do exterior ou algo que sempre esteve ali, desde o princípio?


Curioso como ninguém a encara diretamente, como se o medo fosse tão grande que só restasse ignorar, como se o horror, quando nomeado, se tornasse ainda mais terrível.


A revelação final é o golpe que rompe a tênue resistência: a voz da sombra não pertence a um ser, mas a muitos. Não é uma individualidade, mas uma pluralidade de ecos - amigos, familiares, fantasmas do passado, mortos que falam através dela.


Nada mais resta senão o terror. Não se sabe se a sombra consumiu a todos, se os dissolveu naquela noite que parecia já sem fronteiras entre vivos e mortos.


Escrito por quem caminha entre as sombras, sem medo de escutar o que elas dizem.


Sombra - Uma Fábula (Shadow - A Fable)

Publicado originalmente em setembro de 1835, na Southern Literary Messenger

(Escrito por E. A. Poe em 1835)

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