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Category: Books and Stories

A Aventura sem Paralelo de Um Tal Hans Pfaall - E. A. Poe

A Aventura sem Paralelo de Um Tal Hans Pfaall



Acabei de atravessar A Aventura sem Paralelo de Um Tal Hans Pfaall, e tudo que me ficou foi essa sensação: uma narrativa que anunciava mistério, loucura e genialidade, mas se afoga em números excessivos, descrições técnicas entre o cômico e trágico - ou talvez tenha sido eu quem se perdeu nesse labirinto.



Sim, havia ali a promessa de uma jornada extraordinária: um homem que some por quarenta anos e retorna com uma mensagem, revelando uma viagem impossível... não por oceanos, mas pelo céu. Não era um foguete, não era uma espaçonave - era um balão. Feito de couro de animal, de pedaços de jornal, de contas que parecem ficar entre o certo e a loucura.



Hans Pfaall queria mesmo chegar à Lua. Não pela glória, não em nome da ciência, talvez pra fugir, ou pra mostrar algo pras pessoas ao redor. Não sei dizer. Porque durante a história, os porquês se perderam em detalhes sem fim: tamanho do balão, espessura da corda, medidas e mais medidas de unidades que não dizem nada. Some o homem, fica o manual de instruções da sua fuga.




E o que mais me surpreendeu: uma vida marcada por fuga, isolamento e, talvez, vontade de justiça. Hans possuía família, devia dinheiro, vivia sumindo e se escondendo. Ele seria gay? Não faço ideia. Teria cometido crimes? Igualmente desconheço. Inúmeras interrogações permaneceram sem resposta, como furos no balão.




As partes mais pessoais da narrativa, que poderiam nos conectar a ele - o pavor, os sentimentos, a desrazão - foram sufocadas por detalhes demais sobre como tudo funcionava. E eu, diante das páginas, apenas me questionava: pra que ele fez isso? Por que resolveu sumir e, principalmente, por que escolheu voltar?




Talvez essa seja a potência do conto, mesmo que me cansou: ela não dá respostas prontas. Nem sobre Hans, nem sobre a viagem, nem sobre onde acaba o sonho e começa a loucura. No final, ficamos com uma carta, uma confissão, um espetáculo de julgamento público - e, pra mim, só sobrou o incômodo de não ter sentido o que outros dizem ter sentido.




Mesmo assim, existem admiradores, aqueles que se impressionam, os que se encantam, os que se deslumbram com essa ficção científica pioneira, imaginando o homem cruzando os céus rumo à Lua.




Mas, pra mim, ficaram o esgotamento e aquela sensação estranha. E a clareza de que algumas histórias não são pra qualquer um — ou talvez não fossem pra mim agora.




Por quem procurou emoção e encontrou exaustão.

Por quem quis fascínio e encontrou cálculo.

Por quem leu até o fim, mas não soube o que sentir.



A Aventura sem Paralelo de Um Tal Hans Pfaall (The Unparalleled Adventure of One Hans Pfaall)

Publicado originalmente em junho de 1835, na revista Southern Literary Messenger

(Escrito por Edgar Allan Poe em 1835)

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