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Category: Books and Stories

Leonizando - E. A. Poe

Light Pink Pointer

Leonizando



A impressão que fica é a de ter atravessado um salão repleto de vultos falantes, onde todos sabem o que está acontecendo - menos quem lê. Há algo de deliberadamente caótico neste conto, como se própria linguagem, conspirasse para confundir, enredar, zombar. Nomes surgem como enigmas, desfilam em sequência estonteante, sem que se saiba ao certo se são gente, conceitos ou piadas privadas do próprio Poe.



O tal nariz, símbolo de tudo e nada, a aprece na história  como objeto culto de piada. É um profeta? Um palpite? Representação do orgulho ou da ambição? Ou simplesmente um apêndice mesmo, objeto de um desejo inexplicável? Mulheres se encantam. Artistas fazem propostas. Aristocratas se ofendem. E o dono do nariz parece não se importar com nada- exceto, talvez, com a ideia e ser mais admirado do que compreendido.



"Leonicidade": palavra inventada ou conceito oculto O que significa ser "leonizado"? tornar-se um leão um dia, uma criatura efêmera da moda e da atenção pública? E esse leões rebruscados - seriam figuras de elite? Gente importante? Ou apenas uma aglomeração de nomes que se confundem e se apagam uns nos outros, como rostos borrados num multidão em movimento.



Tudo reluz, tudo gira , tudo se contradiz. O conto avança como um pesadelo barroco: pompa e ruína caminhando de mãos dadas. E no meio do salão, ele - o homem do nariz, ora adorado, ora ridicularizado, sempre rodeado por gente que parece saber mais do que revela. O amor é insinuado, o ciúme é sugerido, mas nunca se detém para explicações. Nada é dito com clareza. Apenas o nariz permanece: foco de fascínio e fatalidade.



Até que ele é alvejado. O nariz some. A obsessão termina. E tudo colapsa - ou talvez apenas mude de forma. Porque não há fechamento real, não há reposta definitiva. Apenas a sensação de ter assistido a uma farsa grandiosa, uma sátira vestida de drama, onde o exagero e a zombaria se misturam ao desconforto de ne não saber exatamente de que se riu - ou por quê.



É como rir de si mesmo sem ter entendido a piada.


Por quem transforma a dor em matéria-prima.


Leonizando (Leonizing)

Publicado originalmente em meio de 1835, na revista Southern Literary Messenger

(Escrito por E. A. Poe em 1835.)


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