Nem todo homem, mas quase toda menina

A divisão entre homens e mulheres se estende até os cantos mais obscuros da internet. Homens criados desde pequenos para dominar, mandar e serem o "alfa" acabam caindo em fóruns de incels, redpill e no papo de coach de masculinidade. Lá, aprendem a odiar mulheres e trocam uma adolescência comum por um foco doentio em dominação: das mulheres, das minorias, do mundo.

Crescem inseguros, mas com um ego inflado. Não sabem conversar com mulheres fora do ambiente virtual. Se aliam a outros homens igualmente inseguros e, juntos, alimentam ideias cada vez mais extremistas. A culpa disso? É minha, é sua, é nossa. É da sociedade que continua alimentando esses meninos com regras tóxicas que tentam moldá-los para não serem "viadinhos", e acaba empurrando-os direto para o extremismo e a misoginia.

As mulheres, por outro lado, são cobradas pelos seus corpos desde a infância. A menina gordinha é zoada e acaba caindo em fóruns sobre magreza extrema, em comunidades no Twitter, em uma onda de ódio e repúdio ao próprio corpo. É forçada a se moldar à visão de uma sociedade tão doente quanto ela. E, mesmo assim, sua busca incessante por dietas, receitas e exercícios extremos continua. Ela é incentivada por outras adolescentes tão doentes quanto ela a se afundar cada vez mais em vícios e transtornos.

As raras que não caem nos transtornos alimentares e na distorção de imagem encontram a velha armadilha da submissão. Ondas ultra femininas com um toque de conservadorismo voltam e engolem nossas jovens, transformando-as em perfeitos exemplares das mulheres subservientes dos anos 60.

A culpa disso também é minha, é sua, é nossa. Da mesma sociedade que cria meninos para dominar, é a que cobra das meninas a submissão e as força a ter um corpo cada vez mais magro. Uma sociedade que faz adolescentes de 14 anos se importarem mais com a caloria do seu almoço do que com os próprios hobbies, sonhos e identidades.