Os mandrakes são ou não alternativos?

O termo "mandrake" tem origem curiosa e não está diretamente ligado ao Brasil, ele vem da palavra "Mandrake the Magician", que era o nome de um personagem de quadrinhos criado em 1934 por Lee Falk. 

Mandrake era um mágico elegante e misterioso que resolvia crimes e enganava inimigos com truques de ilusão.

No Brasil, o termo foi adotado nas periferias e passou a ser usado para descrever alguém que tem um estilo "mágico" e impressionante, seja no jeito de se vestir, na forma de falar ou na atitude, o visual chamativo, o cabelo degradê e a ostentação das marcas de roupa contribuíram para reforçar essa ideia de um estilo "diferenciado", com o tempo, mandrake virou um sinônimo para um estilo de vida ligado ao funk, ao streetwear e à malandragem no sentido de esperteza, e hoje é mais do que um apelido: é uma identidade dentro da cultura urbana brasileira, e vem ganhado cada vez mais força, o estilo se popularizou por meio do funk, das redes sociais e do streetwear, criando uma estética própria, marcada por bonés aba reta, roupas esportivas (como conjuntos da Adidas e Nike Tech), cortes de cabelo degradê e um jeito característico de se expressar.

Mas será que os mandrakes podem ser considerados parte do cenário alternativo? Para responder essa pergunta, precisamos entender o que significa ser alternativo e como esse conceito pode (ou não) se aplicar ao universo mandrake.

O Que é Ser Alternativo?

O conceito de alternativo geralmente está ligado a grupos que fogem do mainstream, criando uma identidade própria que se opõe à cultura dominante, em diversas épocas e sociedades, o alternativo surgiu como um movimento de resistência, trazendo visões diferentes sobre moda, música e comportamento.

No Brasil, o cenário alternativo tem sido historicamente associado a estilos musicais e subculturas como:

•  O rock e o punk, que desafiaram as normas sociais e políticas.
•  O indie e o emo, que se tornaram refúgio para aqueles que se sentiam deslocados do mainstream.
• O hip-hop e o rap underground, que trouxeram uma voz para a periferia antes de se tornarem parte da cultura popular

Em geral, ser alternativo significa pertencer a um grupo que cria tendências à margem da grande indústria cultural, sem se preocupar necessariamente com aceitação popular. Diante disso, os mandrakes podem ser considerados alternativos? Ou eles fazem parte de um movimento diferente?

Os Mandrakes e a Cultura Popular

Os mandrakes estão diretamente ligados ao funk, um dos gêneros musicais mais populares do Brasil, diferente do rock alternativo ou do hip-hop underground, o funk já conquistou um espaço massivo dentro da indústria musical, grandes artistas do funk aparecem em programas de TV, fazem parcerias internacionais e suas músicas viralizam nas redes sociais e plataformas de streaming, além disso, o estilo mandrake é fortemente influenciado pelo streetwear global, um fenômeno que envolve marcas como Nike, Adidas, Puma e Lacoste, esse movimento não nasceu na contracultura, mas sim na junção entre esportes, moda e cultura de rua, assim o visual mandrake não busca necessariamente se afastar da cultura mainstream, mas sim reinterpretá-la e adaptá-la à realidade periférica.

Se pensarmos no conceito clássico de alternativo como algo contra a cultura dominante, os mandrakes não se encaixariam, isso porque ao contrário dos punks ou dos góticos, eles não rejeitam os valores do mainstream, pelo contrário muitas vezes fazem questão de ostentar marcas e símbolos da cultura popular, mas isso significa que eles não são alternativos? Não necessariamente.

Mandrakes: Alternativo à Sua Própria Maneira

Se mudarmos nossa perspectiva, podemos argumentar que os mandrakes são, sim, um movimento alternativo, mas dentro da sua própria lógica, isso porque:

•  Eles criaram um universo próprio: O estilo mandrake possui gírias, músicas, roupas e até gestos específicos, formando um grupo social distinto que se reconhece entre si. 
•  Foram marginalizados pelo mainstream: Assim como outras subculturas antes deles, os mandrakes enfrentaram preconceito e resistência da sociedade, o visual mandrake já foi associado a criminalidade e exclusão social, da mesma forma que o funk foi alvo de censura e repressão.
•  São uma alternativa dentro da própria cultura periférica: No passado, o "típico jovem da periferia" era visto como alguém que deveria se vestir de maneira simples e discreta, o mandrake desafia isso ao trazer um estilo ousado e chamativo, valorizando sua identidade ao invés de tentar se encaixar no que a sociedade espera dele.

Ou seja, os mandrakes podem não ser alternativos no sentido clássico do termo (como um movimento underground que se opõe ao mainstream), mas são alternativos dentro do seu próprio contexto. Eles representam um estilo de vida diferente, autêntico e criado à margem do padrão social dominante, o que os aproxima de outras subculturas alternativas que surgiram antes deles.

¿ Mandrake é Alternativo?

Sim, mas de um jeito diferente.

O mandrake não se encaixa na visão tradicional de alternativo, que geralmente se opõe ao mainstream e rejeita a cultura de massa, no entanto, se olharmos para ele como uma identidade construída dentro da periferia, que foi marginalizada e depois ressignificada, podemos dizer que ele se tornou uma alternativa dentro da própria cultura popular.

Mais do que um estilo, o mandrake é um reflexo da transformação das ruas em espaços de criação e resistência. É a prova de que o que antes era visto como marginalizado pode se tornar tendência e mais importante, pode construir um movimento próprio, com suas próprias regras, sem precisar da validação de ninguém.