Eu.
Tenho um pouco de dificuldade pra assimilar o que é ser eu. Nasci e fui criado para ser algo, para performar um ideal: feliz, educado, saudável, cercado por pessoas boas (não para mim, mas pros olhos que constantemente me apontavam). Isso se tornou parte de mim, se impregnou em quem sou e quem eu seria, se tornou o meu normal, o meu eu...
... mas eu definitivamente não era essa pessoa.
O que não me foi ensinado, é que não é possível ser tudo isso, que não era possível ser somente isso. Talvez quisessem passar a ideia de que esse era algo para se trilhar, para se usar como base, mas me foi passado como um modo de ser, o único modo de ser. Mas eu tinha minhas tristezas, minhas dúvidas. As pessoas ao meu redor, nenhuma delas era perfeita o suficiente para os tais olhos que diziam me observar constantemente, ao ponto de por muito tempo eu escolher por conta própria permanecer sozinho pra que eu não fosse corrompido pelo desejo de ser eu mesmo.
Então, na impossibilidade de ser o ideal que me foi dado, passei a performar esse ideal.
Se eu não podia ser, ao menos poderia atuar. O importante era como me viam, afinal.
Como me veem.
Eu e a imagem de mim mesmo. A podridão floreada e enfeitada, fantasiada pra que pareça boa, saudável, suficiente. Sou ser humano, com falhas, com sentimentos de um ser humano em sua totalidade, mas muitas vezes (quase sempre), me permito externar apenas uma parte disso, uma imagem. Mas sou muito mais do que isso, e ainda estou descobrindo, conhecendo.
Permitindo me conhecer.
Mas é um caminho difícil, solitário, e olhar do outro ainda me assombra.
É irônico pensar quantas vezes me impedi de fazer coisas por conta desse olhar,
coisas que poderiam ser boas pra mim,
coisas que poderiam me machucar,
coisas que poderiam me matar.
Em partes foi positivo, nada na vida é uma dicotomia afinal, mas foi doloroso também.
Engoli minhas dores até que me engasgasse com elas e as vomitasse em palavras.
Prazer em conhecê-lo.

Comments
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evangeline
adorei!!