"Anjos do Sol" conta a história de, inicialmente, uma jovem humilde que é enviada por seus pais para trabalhar na cidade, mas acaba sendo enganada e vendida para um garimpo ilegal.
Maria veio de uma família grande e pobre, sendo uma das filhas mais novas. Mesmo assim, foi vendida pelo pai para ser explorada sexualmente em bordéis ou para quem quisesse comprá-la, tudo em troca de alguns trocados mensais que ele receberia por ela e por sua irmã, Raquel. Segundo pistas do próprio filme, Raquel foi enviada um ano antes para a mesma casa de leilão de garotas, no entanto, seu fim é incerto.
Assim que chega à casa de leilão, Maria se encontra com Inês e, de imediato, percebe algo muito diferente nela em comparação com as demais garotas. Inês, embora assustada, não tinha dúvidas quanto ao que ia acontecer. Ambas foram vendidas para um político local, com o objetivo de tirarem a virgindade de seu filho, e por isso foram levadas para cumprir tal tarefa.
É importante ressaltar não só a aparência física das meninas, mas também as cores de seus vestidos, que simbolizam um pouco da personalidade que será mostrada ao longo do filme. Inês veste um vestido vermelho, cor que transmite raiva, rebeldia e violência, enquanto Maria é representada com um vestido amarelo, que condiz com seu excesso de cautela e atenção, mas também com a esperança de fugir, algo que será trabalhado ao longo do filme.
Enquanto os cabelos de Maria são curtos e assim permanecem durante todo o filme, simbolizando a preservação de sua inocência, também pode-se interpretar que isso é uma afronta a Saraiva, que havia expressado o desejo de vê-la com cabelos compridos. Além disso, os cabelos curtos podem ser vistos como uma forma de Maria se manter "menos desejável" para os homens do bordel.
Inês e Maria são apresentadas ao seu novo "lar", onde conhecem Saraiva, que diz tê-las apadrinhado e colocado sob sua proteção... mas não sem um preço caro a pagar. Ele afirma que lhes dará roupas, comida e moradia, com a condição de que se deitem com os homens do garimpo. Entretanto, mesmo cumprindo sua parte, há várias armadilhas, como as altas taxas referentes à comida, moradia, roupas e aluguel, o que cria uma dívida eterna e impossível de ser paga apenas com a miséria que ganham se prostituindo. Isso as força a permanecer no bordel para sempre.
Uma coisa interessante a se pontuar sobre a situação do bordel é que algumas meninas parecem conformadas e até felizes, embora estejam visivelmente habituadas e desesperançosas com a realidade. Algumas chegam ali sem ao menos saber o que é sexo, como no caso de Maria, quem dirá sobre ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis). Isso é evidenciado por Fátima, que alega ter trabalhado anos ali e nunca ter ficado doente, com exceção da vez em que teve um pequeno corrimento (gonorreia).
Uma situação triste e muito real retratada no filme é a de inúmeras crianças tratadas como prostitutas em garimpos ilegais. Durante toda a narrativa, é mostrado o desejo sexual, visível ou subentendido, que grande parte dos homens da trama tem por crianças, seja por cenas explícitas, como falas sobre preferências por crianças ou até pelo modo como olham as meninas mais velhas e mais novas do bordel de Saraiva.
Quando a Copa do Mundo chega e o nascimento do filho de Celeste se aproxima, Maria decide fugir novamente. Dessa vez, porém, ela não para até ter certeza de que está longe do garimpo. Então, liga para Vera, a mulher que Celeste havia pedido que ela contatasse. Sorridente e aparentemente disposta a ajudar, Vera lhe arranja um lugar para ficar e documentos novos. No entanto, logo de cara, é notável que Vera trabalha como cafetina, o que me fez pensar que Maria trocou seis por meia dúzia. Ela havia trocado um cafetão agressivo por uma cafetina sorridente e moderna, mas ainda assim uma cafetina. No fim, enquanto criança e mulher, Maria estaria sempre à mercê dos desejos profanos e criminosos de homens adultos.
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