Pensar em morrer sempre esteve presente em meus pensamentos. Me lembro de me sentir extremamente ansioso só de pensar em não estar aqui, e de, quando criança, estar deitado ao lado de minha mãe e falar a ela que não conseguia dormir, pois sentia muito medo do fim que me aguardava. Eu só consegui descansar aquela noite pois ela sempre soube como me confortar e o que dizer.
Com o tempo, e até meio despercebido, meu medo da morte foi se moldando de acordo com como minha vida veio se desenvolvendo. Com o tempo, a morte não me pareceu mais tão assustadora, e muitas vezes, mais do que sou capaz de contar, morrer me pareceu ser a solução, o alívio e a fuga perfeita para a dor e a preocupação.
Quando pensamentos suicidas me perseguem, o que mais me comove e me faz dar bons passos para trás é pensar em meus pais. Eu imagino a dor insuportável de perder um filho, o vazio, a culpa, e tudo que poderiam ter vivido e presenciado ao meu lado. Eu quero orgulha-los, quero mostrar a eles que todos os seus esforços valeram a pena. Não quero arrancar um pedaço deles e levar comigo para sempre.
Porém, em meio a maré de dor que me afoga só de pensar em como eles iriam se sentir, penso em como eu espero que a morte seja.
A um bom tempo vi em algum canto da internet alguém falando sobre como esperava que a morte fosse a exata mesma sensação de ser carregado, quando criança, do sofá até o quarto nos braços de seu pai ou mãe, pois havia dormido. Eu compartilho do mesmo desejo que esse desconhecido.
Eu espero que a morte seja como os sentimentos e a essência da infância, a pureza, a inocência, o conforto e ingenuidade de ser carregado pelo meu pai do sofá a cama porquê eu havia dormido assistindo alguma coisa. Eu espero que a morte soe como uma brisa leve, como o som dos desenhos na TV, os estalos dos móveis que deixavam um pequeno eu com medo de algum monstro, como a voz da minha mãe me confortando e cantando “Nana neném”. Espero que morte tenha gosto de leite com nescau gelado, danone de morango, bolacha maria e arroz com feijão. Espero que a morte se pareça com o sorriso da minha mãe, com a felicidade que ela sempre mereceu e não pode ter por tanto tempo, espero que se pareça com o abraço de urso do meu pai, com o orgulho e emoção que ele sente de ver os filhos terem o que ele não pode ter.
Eu espero que a morte me aconchegue, porquê no fim eu ainda sou aquela criança que tem pavor de pensar em morrer.
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