“Your hand is cold, mine burns like fire. How blind you are, Nastenka!”
― Fyodor Dostoevsky, White Nights
Eu acreditava que essa coisa, essa sensação, essa maravilhosidade que chamam de “amor” poderia ser factual, poderia ser atingida por mim algum dia. Parece-me que tudo não passou de uma simples ilusão infantil. Um desejo inalcançável de uma criança que lia e lia, ouvia e ouvia, via e via, mas que nunca conseguiu obter aquilo de verdade.
É doloroso admitir o quanto a falta disso, em especial nesse momento da vida em que estou, que deveria ser a fase para tantas paixonites, me doi no peito. Mesmo que eu, em meu estado completamente orgulhoso, jamais vá admitir isso.
Gosto de histórias de amor, de pessoas que sentiram tanto que morreram pelos outros, que sentiram dor e felicidade pelo outro e sempre me perguntei se um dia isso poderia acontecer comigo. Ao que parece, eu não sou alguém exatamente digna de amor.
É mais frustrante ainda quando alguém que você pensava te amar te olha como todos aqueles outros que te machucaram te olhavam: aquele olhar de quem devoraria seu corpo inteiro se pudesse. Não de uma forma romântica, gentil, calorosa. Não como as metáforas estranhas, mas bonitas, que enxergam o amor como algo bisonho. Mas com olhar de desejo desprezível, aquele tipo de olhar que dá vontade de chorar desesperadamente e suplicar pelo socorro da mãe.
Eu não quero que me olhem dessa forma de novo. Não quero que me olhem com esse desejo nojento pela minha carne, como se isso me resumisse. Quero que me olhem e vejam meu interior, quem eu sou de verdade. Que vejam poesia, versos e versos incansáveis de música, vejam sorriso e alegria, uma pessoa que não hesita em fazer as coisas mais estúpidas pra demonstrar o quão importante alguém pode ser para si. Eu queria, às vezes, não ter nascido nesse corpo. Talvez se eu não fosse o que eu sou eu não fosse vista dessa forma tão esdrúxula. Mas eu não posso mudar de corpo.
Inúmeras e incontáveis foram as vezes que eu quis me arrancar de dentro dessa carcaça imunda de carne e sentir-me livre um só momento.
E não sabe o quão vergonhoso é admitir pra quem mais lhe importa que não deu certo, que nunca dará certo porque você simplesmente é incapaz de retribuir da forma que a pessoa deseja. Porque você não a vê com esses olhos porcos e imundos, você tenta buscar o mais belo e puro de dentro da alma da pessoa enquanto tudo o que importa pra ela é como ela iria transformar você no objeto novo em cima de sua estante de troféus.
Não vejo a hora de mãos que queimem como brasa encontrarem às minhas. Não para me tocar, mas para me escreverem do fundo de suas almas seu amor extraordinário e exuberante, que só pode ser saciado com algo para além do físico. É pedir demais uma pessoa que não reflita a mesma crueldade daqueles que me tocaram com tanto ardor antes?
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