Melinda é apresentada como uma jovem introvertida, prestes a iniciar mais um ano na escola com uma única mudança: ela não tinha mais amigos. Inicialmente, não se sabe o motivo de sua chegada ter causado burburinho, mas logo é revelado que, numa festa no fim do ano anterior, Melinda ligou para a polícia a fim de prejudicar seus amigos menores de idade que estavam bebendo e festejando. No entanto, não demora muito para que fique claro o verdadeiro motivo de a polícia ter sido chamada: ela havia sido abusada.
Na primeira cena, Melinda indaga quanto tempo levaria para que percebessem caso ela fizesse um voto de silêncio e, não para minha surpresa, demorou um longo tempo até que alguém abandonasse as palavras rotineiras e rasas e de fato percebesse seu “silêncio”. Sua mãe não possuía uma forte conexão com a menina, e ouso dizer que era por conta do estresse e da sobrecarga de seu trabalho como contadora. Seu pai, que pouco é mencionado ou apresentado, se mostrou tão distante quanto a mãe de Melinda, com a diferença de que ambos pareciam nutrir um respeito mútuo e especial, como foi mostrado durante um flashback de uma boa memória de ambos colhendo uma maçã no quintal. A única pessoa que iniciou uma conversa com a protagonista foi justamente uma novata que não sabia da história e das fofocas que rodeavam Melinda. Acho isso interessante, já que com isso não se vê a necessidade de um diálogo expositivo recontando coisas que os personagens já sabem, pois podemos acompanhar o ponto de vista de Melinda e, parcialmente, de sua nova amiga para irmos descobrindo. Uma das cenas mais impactantes é, sem dúvida, quando Melinda é levada pela novata até o ginásio para assistir a uma apresentação de basquete de sua escola, mas lá encontra sua ex-melhor amiga e seu abusador, Andy, aos beijos, além das valentonas que jogam sobre ela a responsabilidade da grande apreensão feita na festa clandestina para menores de idade. O ambiente semicaótico, com pessoas amontoadas, gritaria e música sem fim, expressa perfeitamente a ansiedade e o pânico crescente de Melinda em meio àquele ambiente hostil e desconfortável, sendo que o som intermitente da banda representa isso tão bem através do som que simula as batidas do coração dela, que eu mesma me sinto incrivelmente desconfortável e ansiosa!
Mais tarde, o abusador parece estar rondando Melinda e, por mais que o motivo esteja oculto, é nítido que não é para se desculpar ou expressar remorso pelo que fez. Tanto é que ele demonstra certa grosseria com sua nova namorada, Rochele, enquanto estão “a sós”. Melinda sente certa culpa e angústia por nunca ter contado nada a ninguém e até mesmo se esforça para recuperar a vida que lhe foi tirada, ao ponto de confiar em sua ex-amiga para confidenciar sobre o abuso sofrido. Mas Rochele desacredita e prefere não dar o benefício da dúvida, ao menos é o que aparenta, pois não demora para que ela veja o que estava diante de seus olhos o tempo todo e revele para toda a escola a verdade sobre quem era Andy e o que ele havia sido feito com Melinda.
Por fim, um paralelo entre a cena do dia após a festa onde foi abusada e agora, já no presente, onde todos descobrem a verdade mostra que desta vez, mesmo após o confronto com seu abusador, Melinda não sente mais culpa ou medo, mas sim o conforto de ser acolhida por seus pais e amigos.
E no fim, Melinda evolui como a pequena maquete de árvore feita com ossos de peru que criou na aula de artes. Ao longo do tempo essa maquete evoluiu e se regenerou até que se formasse dezenas de desenhos de árvores, representando como a jovem aprendeu a conviver com o fato de que havia sido abusada e como adquiriu a coragem de seguir em frente mesmo assim.
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