Ainda Estou Aqui

Um filme fantástico que durante suas duas horas e dezessete minutos me perturbou por cada segundo; deixou-me tão inquieta e chorosa quanto qualquer outro filme. Eu posso lhe afirmar, não sou o tipo de pessoa que chora sem razão e eu também não costumo chorar com filmes, mas esse mexeu comigo de uma forma única que tantos outros fizeram também.

Os locais, as expressões dos atores e atrizes (em especial a incrível e indispensável Fernanda Torres), as músicas e os mínimos detalhes me deixavam angustiada e com medo do que aconteceria com aquela família todo segundo, embora eu já soubesse o desfecho da história.

É curioso. Nós estudamos a ditadura militar na escola; nós sabemos dos horrores que aconteceram, na política, na economia, na música, no cinema, na literatura… Sabemos de tudo isso e ao mesmo tempo sabemos de tão pouco. Esquecemos sempre do principal: pessoas viveram isso todos os dias. Pessoas foram levadas de suas casas, deixaram suas famílias à força, foram torturadas, mortas e nunca mais vistas. Tratadas como simples e meros objetos por outros indivíduos, outros humanos que seguiam essas ordens sem questionar. Por medo? Por lealdade? Independente, não questionavam. A banalidade que um evento histórico sangrento e aterrorizante como esses acabou absorvendo para si na atualidade me choca e deixa-me completamente enojada. Vendo um filme desses, como é que alguém pode dizer que isso não ocorreu? Que é tudo mimimi, tudo mentira?

Chorei pois me imaginei naquela situação desesperadora. Eu iria sucumbir e surtar completamente numa situação dessas, mas muitas pessoas conseguiram se manter firmes, aguentar pelo menos aparentemente tudo que aconteceu.

Pergunto-me ainda como é que existem pessoas que louvam isso. Como existem pessoas que endeusam ditadores e sistemas esdrúxulos como esses, que visavam nada mais do que o controle social, a opressão e a morte ao diferente, ao revolucionário. Que endeusam aqueles que veem a liberdade como algo digno de nojo.

Há momentos em que eu esqueci que aquilo foi algo real, algo que aconteceu com diversas pessoas no Brasil, não só com a família Paiva. Eu esqueci não porque era um filme, mas porque parecia surreal demais, não parecia normal nem natural que algo tão ridiculamente absurdo como aquilo ocorresse no país em que hoje eu coloco meus pés.

Sabe quando nós vemos uma coisa e sabemos que aquilo vai mudar nossa vida para sempre? Temos essa impressão interessante de que as coisas nunca mais serão as mesmas depois disso? Esse filme definitivamente me causou essa impressão. Deixou uma marca cruel e amarga no meu peito que eu jamais serei capaz de apagar.

Que sejamos livres de que algo desse tipo aconteça de novo. Que o conhecimento e a verdade se estendam sobre nossa sociedade num futuro próximo e que erros do passado não sejam cometidos novamente.

A história nunca deixa de existir. Eventos como esse não desaparecem, eles devem sempre permanecer na mente e no conhecimento do povo de tal país.