ODE TRIUNFAL - Álvaro de Campos

Oiee gente, bom aqui vai ser só uma análise minha sobre uma poesia do Fernando Pessoa, um grande escritor modernista, e o que eu consegui entender na sua escrita, baseado nas características modernistas e do seu heterônimo, Álvaro de Campo. Isso é mais uma visão que eu consegui ter do poema, então pode ter algum erro, porém, espero que vocês relevem caso achem algo muito absurdo. Espero que gostem!



ODE TRIUNFAL



1 À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica

2 Tenho febre e escrevo.

3 Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,

4 Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

5 Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!

6 Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!

7 Em fúria fora e dentro de mim,

8 Por todos os meus nervos dissecados fora,

9 Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!

10 Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,

11 De vos ouvir demasiadamente de perto,

12 E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso

13 De expressão de todas as minhas sensações,

14 Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

15 Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical —

16 Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força —

17 Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,

18 Porque o presente é todo o passado e todo o futuro

19 E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas

20 Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,

21 E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,

22 Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,

23 Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,

24 Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,

25 Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

26 Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!

27 Ser completo como uma máquina!

28 Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!

29 Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,

30 Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento

31 A todos os perfumes de óleos e calores e carvões

32 Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!


Álvaro de Campos, Londres, 1914 — Junho.



Análise


Como trata-se de uma poesia modernista, é possível perceber diversas características desse movimento em diversos trechos, tais como: oposição ao classicismo, já que, o poema não retrata de temas mitológicos ou religiosos e não está em forma de soneto, com isso, já apresenta outra característica modernista, a renovação artística, com o uso de versos livres e brandos no poema inteiro; a forte ironia e sarcasmo presentes como no trecho “Ser completo como uma máquina!”, pois, uma das características principais desse heterônimo de Fernando Pessoa é mostrar que o homem é sujeito a máquina e a forte expressão irônica moderna retrata essa certa aversão a máquina da época da Revolução Industrial que ele vivia; no trecho “À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica” nota-se também outra característica forte do Álvaro de Campos porque ele é incapaz a se adaptar  à realidade que vive; no verso “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!” pode perceber outro aspecto modernista, a experimentação estética, com o uso repetido da consoante “r”; em trechos como “Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime”, “Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento”, “Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!”, além de outros, exalta a agressividade e um temperamento agressivo que o heterônimo possui;  a alternância entre versos turbulentos e energéticos como de “Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,” para “Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,” com a energia que surge a partir da repetição de verbos no gerúndio, com uma sedação de aceleração; a linguagem conforme a realidade que ele vivia  também é muito explícita no texto tal como no trecho “Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!”, porque, ele vivia numa realidade industrial com o surgimento de carros; e a Valorização do cotidiano com a melancolia que são notórias no trecho “Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!".


Em suma, percebe-se que essa poesia possui grandes traços modernos e uma grande influência futurista. O poeta anuncia um rompimento com o passado e busca novas sensações e infração a todas as regras: as da vida e as do verso, que se apresenta irregular, nervoso e permeado por interjeições, onomatopeias, expressões exclamativas, vocabulário técnico e desvios sintáticos. É uma celebração da modernidade, do triunfo da civilização técnica e industrializada, embora pontue também os problemas dessa civilização, que ao mesmo tempo o fascina e o perturba, desequilibrando todo o seu ser.


Bom, espero que vocês tenham entendido um pouco mais sobre esse período modernista e características dele. 


Obrigada pela atenção!!

Beijinhos :)



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