Aya procurava algo no bolso da mochila. As mãos tateavam ansiosas, até que, finalmente, tocaram o pequeno tubo. Um lip balm de morango. Mostrou-o às amigas, mas o ato tinha outra testemunha. Mitsuki, já incapaz de focar em qualquer coisa além dos lábios de Aya, observava o movimento delicado da aplicação, cada deslizar como uma provocação silenciosa. Às vezes, achava que Aya sabia — e sabia mesmo — que seu olhar não fugia daquele ritual.
No refúgio da loja de discos, Koga organizava novos álbuns. O tio havia saído, e a solidão era confortante até o momento em que Aya apareceu. Aproximou-se do balcão, com aquele mesmo jeito doce.
— Oi — disse, e Mitsuki respondeu com um aceno, oferecendo-lhe um CD novo.
— Red Hot Chili Peppers. Achei que fosse gostar.
Aya tomou o CD e o deixou sobre o balcão, mas seus dedos logo mergulharam na bolsa, buscando o lip balm outra vez. Com suavidade, deslizou-o nos lábios, e Mitsuki, mais uma vez, se viu incapaz de desviar o olhar.
— É novo? — Perguntou Mitsuki, hesitante, mas o desejo de saber era mais forte do que o controle que tentava exercer sobre si mesma.
— Sim — respondeu Aya, mostrando-lhe o tubo. — Sabor morango. Quer provar?
O convite pairou entre elas. Mitsuki desviou o olhar, mas algo dentro dela queria dizer "sim", ainda que não soubesse como articular o desejo.
— Por favor — murmurou, sem coragem de fitar Aya nos olhos.
Aya se aproximou, na ponta dos pés, delicada, tocou os lábios de Mitsuki com o bálsamo. O gosto de morango era doce, mas havia algo mais, uma impressão que só se forma na proximidade de quem se deseja. Mitsuki, absorta, percebeu-se encarando Aya, mas quando notou, um rubor coloriu seu rosto. Aya sorriu ao notar.
— Gostou do sabor? — perguntou, com voz baixa e provocadora, ainda próxima demais.
— N-Não sei… — disse Mitsuki, uma resposta sem qualquer controle.
Aya, também enrubescida, recuou ligeiramente, como quem se retrai de um risco.
— Desculpa… foi tolo — sussurrou.
— Não tem problema — Mitsuki respondeu, recompondo-se enquanto os olhares ainda trocavam uma cumplicidade tímida.
— Eu queria tanto te beijar… — Aya confessou, baixinho, sentindo que talvez tivesse dito demais, mas já era tarde.
Mitsuki mal respirava. Cada palavra que lhe vinha parecia um suspiro.
— Eu também quero — disse, a voz tão baixa quanto um segredo.
Ambas riram, aquele riso de quem já se entregou ao que sente. Aya suspirou e disse:
— Isso é constrangedor.
— Definitivamente — respondeu Mitsuki.
Quando o silêncio entre elas tornou-se insustentável, Aya aproximou-se novamente. Suas mãos envolveram o rosto de Mitsuki, e seus lábios se uniram num beijo breve, quase como um presságio. Mitsuki, movida por algo maior que a timidez, segurou a cintura de Aya e trouxe-a para mais perto. O beijo tornou-se mais profundo, os lábios e línguas dançando numa cadência que só elas compreendiam. Tinha o gosto leve e artificial de morango, mas também algo que nenhuma delas saberia descrever.
E, após dois selinhos, permaneceram ali, as testas coladas, de olhos fechados, como quem não quer acordar.
— Posso usar o lip balm de novo? — sussurrou Mitsuki, a voz cheia de uma nova coragem.
— Sempre que quiser — respondeu Aya, sorrindo.
— Agora?
— Outra vez?
— Por favor.
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