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Category: Writing and Poetry

romance

   Eu poderia escrever um romance, se ao menos o tivesse vivido. Contudo, a escrita é ingrata com quem não teve o gosto na boca, o toque nas mãos, o cheiro que permanece nas roupas. Confessei, e, como resposta, ela aproximou os lábios, frios como uma promessa, e sussurrou: "Eu te mostro."

   Então me beijou com a força de quem quer deixar marcas. Suas unhas firmes, prendendo minha nuca, e, no roçar dos cabelos, senti-me enraizada em um jardim desabrochando, uma selva que ela cultivava e me permitia atravessar. Fiquei ao seu lado como quem se entrega e se perde.

   Ela bagunçou minha cama, os lençóis desfeitos pelo peso de um desejo. Cada toque, um risco na pele, um vermelho, um roxo, uma tatuagem efêmera que sangrava a nossa história. Ela me ensinava para que eu soubesse, para que eu tivesse, enfim, o que escrever.

E assim, ao final, eu tinha. 

Escrevi, com ela, o nosso romance.





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