"The extreme always seems to make an impression"
- J. D.
Navegando pela internet e sua variedade incrível de postagens me deparei com algo que chamou minha atenção.
Um musical
Eu não costumo ser a maior fã de musicais, mas esse aqui devo dizer que de fato despertou em mim muita curiosidade. Todavia, não falaremos do musical em si, mas sim do filme estrelado por Winona Ryder e Christian Slater “Heathers”, ou como é conhecido no Brasil, “Atração Mortal” (1988).
O filme de comédia retrata a protagonista Veronica Sawyer (interpretada por Winona Ryder) e seu grupo de amigas extremamente populares e maldosas. Entretanto, a vida delas muda quando Veronica passa a se relacionar com James Dean (chamado de JD e interpretado por Christian Slater), com quem em conjunto passa a cometer assassinatos, eliminando aqueles que eles consideravam a “escória” de seu colégio.
Apesar dessa trama inicial meio bizarra, por trás da história de amor esquisito e assassinatos constantes, há uma crítica fervorosa à forma que os jovens são vistos em sociedade e à forma que eles próprios se veem. Talvez eu esteja observando fundo demais no filme? Pode ser. Mas acompanhe-me e vejamos um pouco da minha análise do tão aclamado filme adolescente dos anos 80 (que começou a fazer muito mais sucesso agora).
Análise
Como falarmos de adolescência sem falar nas trágicas rivalidades que rondam esse período singelo da vida que todos vão passar em algum momento? É justamente isso um dos grandes focos do filme. A rivalidade para ver quem tem mais status, quem tem ou não um relacionamento ou até mesmo quem obedece ou não as normas sociais que devem ser seguidas sem exceções por todos.
O trio das garotas, as três chamadas de Heathers, é em minha percepção um exemplo perfeito da padronização que é imposta diante dos adolescentes e do que é esperado deles. Sejam perfeitos, tirem notas boas, sejam “vistos” e depois simplesmente sumam na pacata e tediosa vida adulta de mais um explorado. Entretanto, mediante a essa padronização, é óbvio que vai haver a necessidade de se destacar num meio onde todos tentam ser como você, já que você é o exemplo para todos. É isso que a Heather 1 (vermelha) faz, ordenando as outras garotas do grupo a cometer bullying pois isso traz a sua vida tediosa uma sensação de satisfação. Além disso, é mais uma demonstração da divisão da sociedade em castas. Os mais ricos ficando no topo e explorando aqueles que são “inferiores” a eles da forma que bem lhes cabe.
A criação das garotas e garotos para agirem segundo seus egos inflados e com uma competitividade absurda num ambiente em que eles deveriam estar se desenvolvendo e explorando relações amistosas e saudáveis é apenas um reflexo do que já ocorre em nossa realidade (embora talvez a parte dos assassinatos seja um pouco exagerada). A ausência de capacidade empática dos personagens uns pelos outros também pode ser uma demonstração do efeito que essa divisão social (Como uma microdivisão de classes; se Foucault tem a microfísica do poder, cá estamos nós com a microdivisão) causa não apenas em coisas grandes, como no comportamento de uma sociedade gigantesca, mas em uma coisa um pouco menor, como uma escola. Aqui creio que podemos relacionar com Foucault e a questão da microfísica do poder, onde há uma reflexão desse e de sua exploração nas relações simples e cotidianas (como as que citamos, escolares). Se o poder é exercido inteiramente nas situações cotidianas sobre as pessoas, às vezes de forma não perceptível, então também há um micropoder desenvolvido e reflexo desses poderes maiores sendo propostos e estabelecidos até mesmo por quem não os sofre diretamente, o que é bem preocupante. O estabelecimento de normas e padrões comportamentais acaba sendo passado como um ciclo vicioso, uma mão invisível que nunca para.
Isso é, nunca irá parar até que alguém se revolte e decida tentar estagnar esse processo, como Veronica e JD fizeram (vamos excluir o fato de que a rebelião deles foi exageradamente agressiva).
A capacidade cínica com que o filme consegue criticar não somente as vivências extremas da adolescência, mas também a exploração vivida por esses e a falta de estabilidade e relações saudáveis, é o que torna ele, em minha opinião nada cinéfila, uma obra muito interessante e boa de se assistir. Não só pelo fato dos atores serem ótimos, das trilhas sonoras serem boas e da trama ser intrigante, mas também pelo fato de que se passa como um filme juvenil com críticas que eu consideraria voltada para os adultos que agem dessa forma, ou melhor ainda, para os adolescentes que sofrem com essa microexploração e tentam compreender de onde é que tal coisa pode ter vindo.
Comments
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LuccaCabeçudo
Perfeito, meu blog favorito🖤🖤
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