Me ajoelho no chão do meu quarto, porque nos filmes todos fazem assim e porque não pensei em nenhum lugar mais sacro para rezar, e junto as mãos, na tentativa de iniciar uma oração. Olho, estaticamente, para baixo, organizando os meus pensamentos e tentando desentalar todas as palavras e dúvidas que estão há tanto tempo presas na minha garganta. Não, não consigo fazer isso. Eu me sinto tão rídicula que tenho vontade de rir, mas, por alguma razão, o riso não se instala em minha face; em vez disso, eu sinto lágrimas quentes escorrendo pelas minhas bochechas.
O que é que eu estou fazendo? Eu não levo jeito pra isso e faz anos que eu sequer agradeço a Ele por coisa alguma... É, não sei por que pensei que essa era a coisa certa a se fazer. Apoio uma mão em minha coxa e me preparo para levantar, e então me ajoelho novamente. Eu tenho que fazer isso, preciso tentar mais uma vez, só mais uma vez. Respiro fundo e fecho os olhos. Lá vai. Hmm, oi... Oi... Droga, por que é tão difícil falar isso? Okay, de novo. Oi, Deus. Consegui. Bem, eu estou meio sem jeito e me sinto meio esquisita por, sei lá, estar tentando falar com Você, opa, quere dizer, com o Senhor. Sabe, durante algum tempo, eu realmente tive fé, eu acreditava de verdade nas coisas divinas, como santíssima trinidade e salvação, mas agora... Agora eu não sei mais de nada. É impressão minha ou a minha voz está trêmula?
A verdade é que me eu sinto tão, mas tão sozinha, e não sei acredito na Sua existência, não sei se gosto da ideia da Sua existência e acho tudo simplesmente muito injusto, apesar de sempre ouvir sobre como o Senhor é bondoso e tudo mais. Eu aprendi desde cedo que nós, seres humanos, somos pecadores, e que o Senhor, por amor a nós, deu o seu único filho para nos salvar do pecado, mas que tipo de amor é esse que condena aqueles que preferem seguir suas vontades e seus próprios ideais ao inferno? Que tipo de amor é esse que deixa tantas pessoas boas morrerem sem razão nenhuma? Que tipo de amor é esse que deixa a injustiça correr livre pelas ruas? Sinto meu maxilar se contraindo e meus dentes rangendo.
Eu não gosto de nada disso, não gosto mesmo, e ainda assim, procuro alguma prova de Sua existência, na esperança de encontrar algo a que eu possa me agarrar, algum porto seguro. Mande um raio cair na minha cabeça, um terremoto de escala 7.0, sei lá, qualquer coisa, algum sinal. Se não mandar, estarei convicta de que o Senhor não existe e pararei de Te procurar, farei esse favor a mim mesma. E então, tentarei seguir a minha vida da melhor maneira possível, sem pensar sobre céu ou inferno ou redenção ou pecado; não, eu serei livre de todas essas amarras e estigmas sociais e, quem sabe, serei feliz, feliz do meu jeito humano, errado e quebrado de ser. Acho que é isso. Se existir, me avisa. Amém. Solto o suspiro mais longo de minha vida e limpo as lágrimas. Isso foi intenso. Me levanto e saio do quarto. Vou para a sala, me jogo no sofá e ligo a TV, tentando escolher algum canal menos chato pra assistir. Não acho. Me deito ali mesmo e durmo. Dormir é a melhor solução pra esquecer a vida medíocre que a gente tem.
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