“Nós”
Um texto sobre transgeneridade
Me sinto apenas um pedaço de carne,me sinto menos humano do que as outras pessoas,na verdade,acho que sou menos humano sim,não porque eu seja internamente diferente,mas sim porque a humanidade de cada um é construída pelos outros para cada indivíduo.Pense comigo,um morador de rua,em si,não é melhor nem pior que ninguém,mas o fato de nem se quer olharem em seus olhos enquanto ele está jogado no chão implorando pelo mínimo,retira o fator humano dele,torna-o um ser mais parecido com um animal,ou pior,um objeto podre esperando para ser jogado fora,ele se torna inferior,ele é queimado em brasa como eternamente inferior.
Não sou um morador de rua,sou pior,sou trans,sabe qual o motivo de isso me tornar mais baixo que um morador de rua?É por que um morador de rua não vai tornar seu filho um deles,mas eu,aos olhos da classe cis,eu posso tornar seu filho um deles,isso me faz mais do que um animal,me torna um predador,um predador que precisa ser eliminado.
Eu também sou um fantasma,sabe as outras pessoas,em sua maioria, tem sua humanidade intacta durante sua vida,humanidade intacta não significa estar insento de problemas,mas sim que seus problemas são vistos como problemas.
Nossos problemas jamais serão problemas,por que vivemos em uma sociedade cis,e eles jamais vão nos entender
Minha antiga psicóloga custumava reclamar que eu dividia o mundo entre “Nós” e “Eles”,dizia que isso era um problema,já que,na visão dela somos todos iguais,hoje,com minha armadura rosa e azul construída por 4 anos,consigo perceber que esse discurso é apenas uma prova de que “Nós” somos muito diferentes “Deles”
Nenhum de nós falaria essa frase,nem algo do tipo,pois sabemos que somos negados do básico nos tornando assim,marcados em brasa como eternamente inferiores
“Nós” somos inferiores,nós não somos humanos,”Nós” somos apenas um pedaço de carne.
Sei que “nós” vamos m0rrer jovens,a grande maioria,e provavelmente eu mesmo,morrerem0s de suicidi0,a outra parcela se dividirá entre os assassinad0s diretamente e os que morrerã0 de fome nas ruas,nunca esperei nada da minha vida,mas tanto faz,afinal,o que se esperar quando não se tem nem a si mesmo?
Acalmem-se jovens “nós” vocês vão se acostumar com o gosto do chão.
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