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Category: Religion and Philosophy

Heaven knows how miserable i'm now

“Two lovers entwined pass me by

And heaven knows I'm miserable now

I was looking for a job and then I found a job

And heaven knows I'm miserable now


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Vou dizer a verdade, a aula sobre os Smiths foi inesperada. Ou como diria Walter Benjamin (de quem também falamos na aula), foi um acaso. E um acaso maravilhoso.

Eu penso muito, penso até demais. Mas em aulas em que há filosofia envolvida, minha mente é transportada pro mundo dos pensamentos, onde eu me perco e esqueço de voltar pro mundo normal por um bom tempo. Diante disso, acabei desenvolvendo várias opiniões e pensamentos relacionados ou não relacionados ao tema. Pensei muito naquela coisa do ódio vir da melancolia e vice e versa e finalmente vou conseguir começar a escrever sobre isso. Entretanto, o assunto desse post é outro.


Uma coisa que percebi muito forte na melancolia das letras de Morrissey é o quão fragilizado ele se mostra e o quão miserável ele sempre se faz parecer, seja fisicamente ou emocionalmente. Eu achei isso uma pauta interessante para discutir e então formulei a seguinte pergunta pra mim mesma:

“Nós temos absolutamente tudo. Estamos onde queremos, temos as companhias que desejamos. Mas por que nos sentimos tão sozinhos e é como se parecesse que não temos nada?”

A partir dessa questão um tanto quanto pessimista e melancólica, decidi montar uma linha de raciocínio de última hora que me fará entender a razão desse evento ser tão pesado e recorrente não só nas músicas de Morrissey, mas também na vida em geral. Eu diria que é uma auto análise indireta, por favor, não me veja com péssimos olhos por pensar dessa forma.

Como base, temos a música “Heaven Knows I’m Miserable Now”, onde nosso cantor disserta sobre suas frustrações pelo fato de não estar em um relacionamento. Apesar disso, ele consegue um bom emprego, mas não está contente com isso. Na música “I Know It’s Over” também vejo algo parecido, onde há um questionamento listando diversas características positivas do eu-lírico, mas ele ainda é representado como alguém sozinho e triste, mesmo tendo “tudo” aquilo.

Então me veio na cabeça o por que estamos sempre tão frustrados e o por que sempre queremos mais. É algo enraizado em nós? Eu acho que o ser humano naturalmente é um ser que precisa de mais do que se tem (seja física ou emocionalmente), que acha que nada do que tem é suficiente e que sempre se pode ter mais e melhorar mais e acredito também que por vivermos num sistema capitalista (que visa principalmente essa questão do quanto mais você tem, melhor) isso se manifesta com certa força. A partir disso, essa frustração é impossível de não existir no indivíduo em algum momento de sua vida. Seja desejando que tivesse um emprego melhor, mesmo já tendo um emprego. Seja desejando uma casa maior, mesmo já tendo um lugar para morar em que as condições de vida são boas. Ou nesse caso, seja tendo amizades e pessoas que se orgulham de você, mas se sentindo completamente alheio ao mundo e completamente sozinho.

Não estou dizendo necessariamente que ele buscava por amigos, mas Morrissey buscava por amor, um amor que não tinha disponível pra ele e isso o frustrava de forma inabalável. A frustração dele se expandiu e acabou chegando a outras coisas nada relacionadas ao que inicialmente frustrava ele. E a partir disso, de tanta tristeza e rancor dentro de si, acaba que tudo é exposto como ódio. Pensei demais em ligar isso com o livro Crime e Castigo, de Fiodor Dostoievski. Gosto muito do livro e estou pensando até mesmo em ler de novo, mas como já disse, não sou daquelas pessoas que fazem a mesma coisa duas vezes, não importa o quão necessário seja. Enfim, o protagonista, Raskolnikov, lembrou-me muito das letras das músicas do cantor do qual estamos falando. Ele também passa por momentos de melancolia, que se transforma em frustração e depois disso em completa raiva, até que ele explode e deseja mais do que qualquer coisa partir para a agressividade.

A agressão é uma coisa presente em ambos os conteúdos de que falamos. Morrissey deseja cometer ações violentas com os outros e até mesmo fantasia coisas desse tipo acontecendo consigo mesmo (a coisa do ônibus de dois andares atropelar ele), enquanto Raskolnikov faz o mesmo (exceto pelo fato de que ele realmente matou duas pessoas com uma machadada na cabeça, coisa que Morrissey não fez até onde eu sei, mas você entendeu meu raciocínio). Eu diria que a melancolia é formada por fases, assim como a maior parte das coisas do mundo. Temos as fases do luto, as fases do amor, mas a linha mais interessante de estados emocionais humanos é, na minha opinião, a linha do estado melancólico. Irei anexar embaixo dessa parte uma anotação extremamente mal feita e provavelmente difícil de ler sobre como eu imaginei isso:




Percebo que no livro houve a conclusão até a fase final, mas acredito que Morrissey deva ter parado na metade de tudo isso.

A partir disso pensei também sobre o egoísmo humano, quer dizer, acho que não tem coisa mais egoísta do que tirar a vida de outra pessoa e simplesmente seguir em frente com isso. Pensei em egoísmo e talvez hipocrisia (mas acho que não seja essa a palavra, se puder mande um feedback sobre). Egoísmo na questão de você simplesmente ser incapaz de aceitar que sim, nem todo mundo vai sofrer como você sofre e as pessoas não precisam ser infelizes e que na verdade, todo mundo tem o direito de ser feliz à sua maneira ou de não ser feliz, o que for melhor, mas privar alguém ou julgar alguém por ter essa felicidade é algo absurdo e ridículo. Se estivermos falando de relacionamentos amorosos, entendo completamente o quão difícil e frustrante é ver a pessoa que você ama com outra e ver ela feliz, você tem vontade de explodir tudo a sua volta, mas apesar disso, se você realmente ama a pessoa, acredito que ver ela feliz com outra é muito melhor do que manifestar o seu ódio pela sua sensação de vazio. Acredite, é muito esquisito estar desse lado da história. Só temos péssimos exemplos: Morrissey, Tom, House, Wilson, Lana Del Rey, Mulder, Norrington… Todos são “personagens” que de alguma forma falam sobre suas frustrações no amor, todos são personagens que não conseguiram alcançar aquilo que mais almejam, alguém que os ame tanto quanto eles amam ou ao menos só alcançar alguém e que ficam frustrados quando veem a pessoa a quem sentem tanto apreço com outro e acredite, acho que a cada dia que passa estou entendendo eles um pouco mais. É uma percepção de vida extremamente egoísta, mas acredito que a maior parte deles tentou aprender aos poucos como lidar com isso e creio que, no final, todos perceberam que a verdadeira expressão de amor era, na verdade, apenas aceitar.

Aqui vejo que o Schopenhauer tem bastante ligação. Seu pessimismo filosófico torna a dizer que a vida é dolorosa e frustrante independente de qualquer situação, coisa que é muito expressada por todos os personagens, mas em especial por Morrissey, de forma contínua. Não importa se algo bom aconteceu, sempre vai ter um lado ruim daquilo. É como na música “Still Ill”, onde o cantor diz sobre um beijo que aparentemente queria muito receber, mas ao invés de pensar “Opa, olha só, beijei que top!” ele fala “Que saco, meus lábios ficaram doloridos”. Isso é tão pessimista que chega a ser engraçado. Não vou ser hipócrita, assumo que sou extremamente dessa forma também, mas é muito difícil enxergar o lado bom das coisas.

Nesse sentido, também dou uma resposta à pergunta do início do post. Apesar de alcançarmos e termos o que tanto desejamos, somos tomados constantemente pela sensação de vazio e insatisfação. A solidão e o vazio são parte da existência humana. Então, se a dor é uma característica contínua da vivência humana, o objetivo de vida superior do homem é evitar essa dor e buscar o prazer.

Numa opinião mais pessoal, acho muito bonita a ideia de apenas abraçar a solidão e a dor da vida e enxergar isso de uma maneira em que essa característica não seja colocada como algo ruim. Acredito pessoalmente que a vida sendo cansativa e difícil traz muito mais capacidade para questionarmos ela e muito mais vontade de viver do que ela sendo divertida e feliz. Eu também acho que a morte seja a única forma de se livrar disso tudo, já que tudo tem um lado ruim menos morrer. Se a vida é puramente a dor, então a morte, ao contrário dela, é a libertação. Mas não acho que quem decida fazer isso realmente esteja se libertando, eu acho que está apenas seguindo o que foi programado para acontecer. Vale muito mais você sentir a dor da vida do que tentar saciar ela com a morte. Acabamos alienados por nós mesmos e nosso constante desejo de “mais e mais”. Isso que de fato nos leva a desejar a morte como resposta, não apenas a dor prática da vida. Nesse caso, não tenho certeza se a dor significaria essa questão da solidão e do vazio existencial, mas se não for, então o que eu disse se aplica. Penso também que quanto mais consciente a pessoa fica em relação ao que ela já tem, mais frustrada ela acaba ficando por não ter mais coisas, não ter outras banalidades que sequer são essenciais para si. Mas é aí nesse momento em que ela começa a ter essa consciência que ela acaba percebendo que ficar correndo atrás de uma felicidade inexistente é inútil e fútil, é algo completamente bobo e que nunca vai de fato existir pra si, é então que acredito que a pessoa melancólica aceita a si mesmo como alguém melancólico e lida com a vida a partir da morte.

Como conclusão, para parar de sentir esse vazio, bastaria apenas aceitar que ele existe da forma que lhe fosse cabível. Com a morte, reclamando ou com música.



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