Bom, esse texto é mais mostrando a pesquisa que eu fiz para meu seminário de pesquisa e eu também vou dar minha resposta aqui adiantada sozinha, pois, acredito que mesmo com o meu grupo, chegaremos na mesma resposta. Mesmo não tendo ido a campo ainda, acredito que fica bem óbvio só de ler as ideias básicas do Bauman e ainda linkar com toda a bagagem que eu trago de outros pensadores que gosto muito. Espero que gostem! Bauman acredita que muitos buscam o que ele chama de “relacionamentos de bolso”, que podem ser usados quando necessário e depois podem ser guardados e usados novamente, basicamente, ter uma pessoa ali sempre que quiser. Na nossa cultura e sociedade consumista, se dá preferência ao produto pronto para uso imediato, ao prazer intenso e passageiro e à satisfação instantânea. O amor, ao contrário, exige esforços prolongados. Bauman observa que os consumidores, que nesse caso também seriam os amantes das relações, hoje não compram somente para satisfazer uma necessidade ou desejo, mas geralmente compram por impulso. No caso dos relacionamentos, seguir os impulsos significa estar sempre aberto a novas experiências com outras pessoas, a qualquer hora e sem compromisso, dando assim a liquidez dos relacionamentos. Com isso, percebe-se que existe uma analogia entre relacionamento e investimento. Ambos exigem tempo, dinheiro, esforços e em ambos espera-se obter lucro de alguma forma. No caso do relacionamento, o lucro pretendido configura-se em segurança, proximidade, ajuda, companhia, consolo e apoio. Contudo, o autor ressalta que nesse tipo de investimento não é possível ter certeza de se ter feito um bom negócio. É praticamente inevitável enfrentar a insegurança e a ansiedade. Há parceiros que preferem simplesmente viver juntos, sem os compromissos oficiais do casamento. Há também os Casais Semi Separados (CSS), que vivem um casamento em tempo parcial: cada um tem sua casa, sua conta bancária e seu círculo de amigos. Eles só ficam juntos quando sentem vontade. Bauman coloca que essas são algumas tentativas de se satisfazer, ao mesmo tempo, o impulso de liberdade e a ânsia por pertencimento. A modernidade líquida é marcada pelo consumismo, que exige velocidade, leveza e obsolescência. O que importa, de fato, não é acumular bens, mas usá-los e descartá-los para que se possam adquirir outros. Na sociedade de hoje os impulsos não são reprimidos , ao contrário, são estimulados de tal forma que o consumismo não se limita aos bens, mas se estende também ao outro. O mesmo se reflete nas relações, “usam” os relacionamentos para suprir um vazio que existe, todo ser humano possui, e descartam eles quando já não sentem que o vazio pode continuar preenchido por essa pessoa. Por conta do modelo capitalista no qual a sociedade está envolta, as relações são tratadas de diversas maneiras. As propagandas e o estilo de vida consumista são duas determinantes fundamentais para delimitar a experiência de cada cidadão em suas relações. Se há múltiplas opções de vida, e as regras tradicionais de controle social e moral do comportamento já não servem mais, somente sobra um leque diversificado de alternativas de auto-afirmação, o que permite aos indivíduos serem aquilo que vestem ou aquilo que os lugares que frequentam significam. Devido ao modelo neoliberalista, a liberdade, que é amplamente massificada e distribuída como uma ferramenta que todos podem conquistar, acaba se tornando a liberdade de escolhas no interior da lógica do mercado, ou seja, a sociedade pós-moderna é a sociedade da sensação, dessa forma, a liberdade na verdade é um estado de ser e não uma conquista de movimento ou ato libertório. Segundo Bauman, neste momento, existem dois modos de vida, o modo ser e o modo ter (é meio confuso mas vou tentar explicar do meu jeito). Isto porque a reificação dos objetos, que é basicamente tratar/transformar conceitos ou objetos, nesse caso a segunda opção, como seres humanos, torna possível que o ser de nosso tempo se esgote no modo ter, e considerar que se pode ter o ser. Isso em palavras mais fáceis seria, o nosso ser “Eu” (personalidade, opinião, senso etc) estaria se esgotando por conta do ter (objetos e talvez modas/tendências seguidas), que seria basicamente a indústria, e por conta dela, acreditamos que poderíamos ter o nosso ser, ou seja, com objetos fúteis poderíamos conquistar nossa própria “personalidade”. Nossa época, dessa forma, meio que em um paradoxo, é a do ser o ter, e ter o ser. O indivíduo se coisifica no que tem, e espiritualiza as coisas que possui. Isso é literalmente a objetificação da vida. Estamos numa sociedade focada nas coisas e não nas pessoas, de modo que o que se tem é um modelo prevalecente responsável por produzir uma sociedade doente, trazendo novamente como os relacionamentos são tratados também como simples objetos, como roupas. Há a imagem ideológica de que a liberdade aumentou e que o indivíduo é de fato mais livre do que ontem; no entanto, esta ideia de liberdade é a de uma liberdade de consumo, da auto-afirmação da identidade pelo consumo. Apesar da impressão de aumento de liberdade, o homem pós-moderno vive o paradoxo do aumento da dependência do mercado e da fragilidade pessoal. O indivíduo pós-moderno não é livre, senão em imagens evocadas por outdoors e propagandas televisivas; ele é controlado, monitorado, determinado e insculpido pelos fluxos e refluxos do mercado. Se o mercado se incrementa a todo tempo, e estar no mercado significa enfrentar a concorrência infinitamente crescente dos competidores, ele só pode ser visto como o lugar de permanente projeção do novo. O mesmo se reflete nas relações, por conta desse novo a todo o tempo, o indivíduo se sente “obrigado” a mudar as relações continuamente, podendo se “renovar” assim como o mercado. Onde tudo é sempre novo e as pressões estão no sentido de forçar o novo, o indivíduo que está sempre “antenado” no novo, se torna ele-mesmo uma novidade permanente, que exige do sujeito mais do que a capacidade de comprar, a flexibilidade de adaptar-se à dinâmica dos tempos. Em suma, a questão das relações parece ser a resposta social à geração sempre inquietante das insuficiências do antigo geradas pelo mercado. O motor que acelera o mercado, também acelera as formas de desenvolvimento dos laços sociais, gera o envelhecimento do que fica, aumentando a sensação de perda de referenciais para a ação dos indivíduos. Ademais, quanto maior a sensação de liberdade e de afrouxamento dos laços sociais, maior a sensação de mal-estar, ou seja, de insegurança, de indeterminação, especialmente considerada a fragilidade na qual está posta a condição de exercício da liberdade. No entanto, num determinado momento, torna-se insuportável que nada fique e que tudo passe. O indivíduo entra em crise, pois não se vê em um relacionamento e não se vê sem um relacionamento. “A atitude inerente no consumismo é a de engolir o mundo todo. O consumidor é a eterna criança de peito berrando pela mamadeira” -Erich Fromm Por isso, é importante dizer que a marca da modernidade é o crescente processo de privatização das funções, até mesmo da família. Sob esse viés, a família está em oposição ao espaço do público, e compartilha espaço com a personalidade do indivíduo e com a produtividade interessada dos agentes econômicos. Por isso, a família, nesse seu entorno, haverá de representar algo socialmente, de modo que, na era burguesa, se projeta no casamento e no sentimento do núcleo familiar uma idéia instrumental, a de que ambos servem como suportes ou acessórios das relações sociais de poder, especialmente do poder econômico. “ Con el progreso de la ilustración el matrimonio se convierte cada vez más claramente en un instrumento.” -Horkheimer A família segue hoje os rumos desenfreados da mudança que se processa no interior do Capital. Do moderno-pesado ao moderno-leve, o que se tem são transformações do sistema de produção, dos mecanismos de produção e das relações de produção. O sistema do capital se globalizou, e a globalização exige um indivíduo sempre pronto para relações de trabalho cada vez mais ́conectadas ́ e informais; exige, portanto, um ser líquido, A exigência de produção desse indivíduo-leve e disponível para o mercado responde às necessidades produtivas, na medida em que a personalidade se molda no entorno das pressões e exigências do mundo do trabalho. “ A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias” -Marx Quando a sociedade se liquidifica, isto quer dizer que a sociedade tem no novo método de produção uma nova alternativa de ação econômica estratégica. Por isso, torna-se irrelevante, ou mesmo um obstáculo, em determinados momentos, a formação do núcleo familiar. Se a família teve sentido num determinado momento do processo produtivo capitalista, agora ela se torna redundante, o que afeta diretamente as relações amorosas dos cidadãos. Por isso, a família e relações amorosas acompanham o fluxo do mercado, um que se desloca para o abstrato do espaço de circulação intensa da economia globalizada, acarretando uma mudança de função. No lugar das relações estáveis, o mundo do amor líquido forma um mercado das “conexões rápidas”, úteis e disponíveis. Neste mercado da afetividade volátil, pessoas aparecem como mercadoria que é consumida e que se dispõe transitoriamente como objeto, até quando outro produto, outra pessoa, mais útil aparece em sua substituição. O ritmo da afetividade vem marcado pelo timing de mercado, pelo tempo dos produtos que se sucateiam e se tornam obsoletos. Quanto maior a instrumentalização da vida social pelas determinantes do mercado, maiores as consequências para a vida do indivíduo, e ainda maiores os efeitos sobre a dinâmica da individualização. Depois de analisar, e talvez já ter até uma ideia do que eu responderia, acho que até respondi antes de criar a pergunta, eu acredito que sim. Acredito que as relações servem para suprir uma necessidade que o ser humano tem, tal como os objetos que muitas vezes são inúteis e compramos para sentir um leve prazer momentâneo e logo em seguida estará esquecido num canto escuro do guarda roupa. E o mesmo ocorre com as relações, muitas vezes, talvez nem por querer, “usamos” alguém para suprir a falta de amor que possuímos em nós mesmos. Buscamos alguém para suprir o que nós não somos, o que não conseguimos ser, o que não conquistamos, e o que queremos materializado está nesse alguém. Porém, por conta da frágil e rápida liquidez que vivemos, os relacionamentos vêm e vão, fluidos como água e, muitas pessoas, não estranham, já é normalizado, principalmente pela minha própria geração. Formas de demonstrar interesse agora são curtir fotos nos stories e colocar no CF do instagram. Irônico pensar que muitas vezes os adolescentes deixam imperceptíveis que querem mas quando não querem mais são rápidos, ou, muitas vezes dolorosos, deixando você no vácuo por dias e fingindo que nada aconteceu. TUDO se tornou rápido demais. TUDO se tornou vago demais. TUDO é líquido demais. Nada é mais palpável, ou fácil de segurar nas mãos. Simplesmente, usamos algo, nesse caso pessoas, para suprir um vazio interminável que foi criado nos nossos seres e a TODO momento precisamos disso. Precisamos de uma vontade, precisamos de um gatilho, uma animação, uma vontade para viver. E se não é uma relação, são objetos, são crenças, são costumes, são vícios. QUALQUER COISA. Então não acredito que seja só as relações, qualquer coisa que nos dê essa sensação de completude e que talvez achamos a nossa verdade, a qual buscamos incessantemente a vida toda, serve para calar a voz da nossa cabeça que tem a urgência de toda hora se perguntar qual o propósito e para o que estamos vivendo além do trabalho. Por fim, também penso que muitos desses problemas são provenientes do trabalho, não falando que temos que parar de trabalhar mas sim por ser muito cansativo. Viver é muito caro. Não passo por nenhuma dificuldade, pois, meus pais conseguem me fornecer o necessário, mas é tudo muito caro. Coisas básicas são caras. E ainda existe PL que impede fornecer comida para moradores de rua? O que nós somos para o Estado? Para os grandes burgueses? Donos de agronegócios. Donos de km de hectares. Donos de grandes marcas, empresas, redes. O que nós somos além de objetos? Além de mão de obra. E pra que relações duradouras se o mercado se renova toda hora? Por que você não se renova também?
É isso gente!
Espero que vocês tenham gostado :)
Comments
Displaying 0 of 0 comments ( View all | Add Comment )