Infância

"Aproveite a infância agora, porque depois não tem mais volta e você vai sentir saudades."

Era o que sempre me falavam quando eu era criança, mas eu sempre ignorava e não entendia. Eu sempre quis ser adolescente, mas nunca fui do tipo que apressava as coisas, eu fui uma criança bem infantil.

Hoje, com 16 anos, só penso naquela minha versão de criança. Ainda sou infantil, mas não sou mais criança. Lógico que eu não quero ser tratada igual uma, mas eu só queria entrar em uma máquina do tempo para brincar de boneca pelo menos uma última vez, já que nem me lembro quando foi a última.

Eu tenho umas perguntas para mim, mas para a minha versão criança.

Será que eu ia me achar bonita?

Será que eu ia gostar das coisas novas que faço?

Ou ia gostar de saber que ainda faço aquilo até hoje?

Eu ia ficar triste em saber que não brinco mais?

Mas eu ia ficar feliz sabendo das coisas que faço para me divertir, né?

Qual seria minha reação em saber que fiz aquilo que falei que nunca ia fazer?

E qual seria minha reação em saber que nunca fiz aquilo que sonhava em fazer?

Provavelmente nem ia ligar em saber que até agora nunca tive um namorado.

Mas ia ficar decepcionada em saber que não casei com aquele garoto que nem lembro mais o nome.

Eu sempre quis espinhas, menstruar pela primeira vez, deixar a unha gigantesca, sair para várias festas, fazer compras no shopping, ter uma festona de 15 anos.

Bom... odeio minhas espinhas, menstruar é uma tortura, minha unha é pequena porque eu toco violão, vou para festas no máximo duas vezes por ano, não tenho dinheiro para fazer compras, e minha festa de 15 anos foi em um boliche do shopping (mas não vou reclamar porque eu adorei).

Algumas coisas não mudaram, e acho que nunca vão mudar.

Tipo, eu ainda sou estranha.

Ainda falo demais.

Meu cabelo ainda parece a juba de um leão quando acordo.

Minha cor favorita ainda é amarelo.

Às vezes eu jogo aquele joguinho no computador.

Ainda adoro aquele desenho.

Eu ainda sou doida pra ir pra Paris.

E ainda sou time dos cachorros (por mais que eu tenha uma tatuagem de gato).

E também tem as coisas que jurei de pé junto não fazer.

Tatuagem, pintar o cabelo, beijar na boca, virar fã de alguma banda, ler livros, pintar as unhas de preto, falar palavrão, usar lápis de olho preto, esquecer o nome dos cachorros que já tive, desobedecer meus pais, e várias outras coisas.

Crescer é fogo.