Aquela sexta-feira

Bom, era outra sexta-feira e ela ainda estava ali, todos os dias desde quando a vi pela primeira vez. Acho que ela nunca olhou para mim uma vez sequer, mas eu sempre fui taxado de esquisito, então claro que eu tinha várias fotos dela no meu quarto e tinha um quadro onde mostrava todos os horários da rotina curta dela.

Hoje, sexta-feira, depois da escola, ela ia se encontrar com uma amiga dela lá no centro da cidade, então, eu sempre chego uns 5 minutos antes. Então ela chegou lá, pediu uma Coca-Cola, como sempre, e ficou esperando a amiga dela, que sempre chegava 3 minutos depois dela. Mas ai começou a chover, e como eu fico sentado do lado de fora, tive que entrar. Bom, não era horrível, eu podia ve-la mais de perto, mas ai eu travei na porta, porque ela me encarou, pela primeira vez na vida, ela olhou diretamente para mim e ainda deu um sorriso.

 Ela nunca sorria, já era uma coisa que me chamou a atenção desde o começo, porque eu me identifiquei com ela, viu? Somos perfeitos um para o outro, mas ainda não está na hora da gente se conhecer, faltava eu acabar com muita gente. Mas ela ficou la sorrindo enquanto me encarava, e eu sorri de volta, até que alguém me empurra meio sem querer para entrar e eu vejo, ela não estava sorrindo para mim, e sim para a amiga dela que tinha acabado de chegar. 

Clássico, né?

Sentei não muito perto delas, mas também não muito longe, dava para ouvir a conversa, o que me fazia querer me matar com um tiro na cabeça porque aquela amiga dela não calava a boca nem por um segundo, chata.

Faltavam 10 minutos para elas irem embora e eu já fui indo para não parecer algo suspeito, mesmo ela nem reparando na minha presença lá.

Peguei um atalho para casa, mas me perdi um pouco e parei em um beco sem saida, mas ai antes de eu conseguir fazer qualquer coisa, alguém coloca um saco na minha cabeça e faz algum machucado na minha perna que me faz cair no chão, acho que enfiaram uma faca lá, e então chutaram minha cabeça o que me fez desmaiar.

Quando eu acordei eu não fazia ideia de onde eu estava, era um quarto minusculo mofado e umido, com um cheiro horrível. Claro que eu comecei a gritar, mas ai, ela veio, a garota dos cabelos mais escuros da terra, a garota que nunca sorri, a garota que eu vivi admirando desde quando eu vi aquelas sardas no rosto dela pela primeira vez.

Ela estava lá de pé para mim segurando um pé de cabra, e começou a me bater.

Antes de eu morrer, eu vi que ela era maluca igual a mim.

Feitos um para o outro.