As vezes, eu ainda me lembro de quando te vi pela primeira vez. Você tava sentadinho no banco da praça, lendo alguma coisa que eu nem tinha prestado atenção, mas acho que eu estava mais preocupada em ver como o seu cabelo, mais preto que seus olhos, caia pelos seus ombros, ou de como você ficava fofo lendo, todo concentradinho.
Depois daquele dia, eu nunca mais fui à praça só pra passear.
Eu sei que é estranho dizer que eu ia lá só para ficar te observando, mas como eu não faria isso? Meu maior medo naqueles dias foi você finalmente terminar aquele livro. Eu poderia ser normal e ir falar com você, mas eu não queria estragar aquele momento.
E ai chegou o maldito dia, o dia em que fui à praça e não te vi lá lendo o livro. Voltei no outro dia e você também não estava lá. Foi ai que pensei que fui burra em não estragar o momento. Bom, era a minha vez de ler naquela merda de banco então né? Antes de você, eu não tinha tantos livros, por mais que eu gostasse de ler também. Então peguei o meu favorito, Alice no País das Maravilhas, e fiquei lá lendo pela milésima vez. Eu até esqueci de você, até que alguém senta do meu lado, o que me trouxe de volta à realidade.
- Que engraçado, ninguém nunca tinha tentado roubar meu lugar antes.
A sua voz entrou direto no meu cérebro, e eu já sabia que nunca mais ia esquecer ela. Eu fiquei tão concentrada nos seus olhos, que de perto vi que eles eram um castanho quase escuro. Mas fiquei tanto tempo te encarando que você achou que eu tinha levado a sério o que você tinha me falado, e explicou a brincadeira. Eu fiquei vermelha. Dei uma risadinha sem graça e pedi desculpas.
O resto eu não lembro, mas só sei que virou uma coisa nossa ficar das 9:00 até as 13:00 no banquinho da praça lendo. Mas como você sempre foi um corajoso que não gostava de enrolação, você me chamou para sair e tomar um café na sua cafeteria favorita. Eu nem gosto de café, mas se você tivesse pedido para eu escrever seu nome no meu pulso com os dentes, eu já teria me mordido inteirinha.
A grande questão foi quando eu ia te passar meu número para a gente marcar direitinho e você recusou. Como assim? Já começaram a passar mil coisas na minha mente. Eu tinha certeza de que ia levar um bolo, ou que você já tinha alguém e eu ia ser uma amante nada a ver, mas eu escolhi confiar dessa vez.
E lá estava você, sentado em uma mesa para dois. Eu fui me sentar com você e pela primeira vez conversamos de verdade, e meu Deus, que conversa. A gente lia a mente um do outro, a gente com certeza já estava conectado pela alma, ou algo assim. Eu me sentia pegando fogo toda vez que você falava algo que eu sempre pensei e nunca conheci alguém que pensava assim também. Ai então você me deu seu número. Péssima ideia, porque depois disso ficamos sem dormir por várias noites de tanto conversar.
Eu só pensava em você o tempo inteiro, já tinha planejado nossa vida inteira, em todas as horas do meu dia você estava lá comigo, na minha mente. Eu ficava esperando a mensagem, a madrugada, o banco, a cafeteria, você.
Até que um dia, eu vi que já era totalmente e completamente sua. Você podia falar qualquer merda, me tratar de qualquer jeito que eu ia ficar te admirando enquanto isso. Eu já não conseguia mais viver sem você, sem ouvir sua voz, sem sentir seu cheiro, sem te tocar nem que fosse só por um segundo.
Eu já estava viciada em você, mas o problema nem era esse, o problema foi lidar em saber que você nem é real e que eu criei tudo isso na minha cabeça enquanto vivo minha vida depressiva dentro do meu quarto.
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