Enrolei tanto para assistir 500 dias com ela, mas tenho meu veredito, é um saco ser como o Tom.
Podem me julgar, é terrível se identificar justamente com o Tom, mas é a realidade e ela é muito cansativa. Não foi um filme que me tocou como tantos outros, mas não vou negar que foi um filme que me deixou frustrada, principalmente por me adequar às piores características do protagonista. Admito que eu nutri um certo rancor pela Summer e bastante por sua capacidade de não se importar realmente com a maneira que Tom se sentia; embora ela constantemente dissesse que não desejava nada fixo, era bem nítido que o boboca do Tom gostava tanto dela que escutaria as músicas que ele mais odiava só para a agradar, mas mesmo assim eles mantiveram de alguma forma uma relação.
Acho que sou um pouco como o Tom, o que é uma droga. Eu me apego às pessoas e eu dificilmente gosto de sair da minha zona de conforto. É estranho admitir ser como um personagem que é dessa forma enquanto adulto e mudou enquanto adulto e eu sou dessa forma enquanto adolescente, mas vou mudar enquanto adulta. Eu justamente estou nessa fase de transição e isso me assusta um pouco, mas é muito bom porque eu tenho a oportunidade de seguir em uma vida adulta à maneira que eu realmente sou, ou ao menos penso que sou e é muito mais fácil compreender a si mesmo e mudar quando se é adolescente do que quando se é adulto já que tudo em sua vida está mudando, é só aproveitar a deixa, seguir o fluxo.
Tom mudou após a Summer; é entristecedor mudar após uma pessoa. Você pensa que não seria capaz de fazer isso por si mesmo, mas quer saber? Nós dois realmente não seríamos capazes de enxergar o que precisamos melhorar se não fossem essas pessoas que aparecem no nosso caminho por uma grande ironia do destino, por um acaso, ou como ele prefere, por uma mera coincidência. Eu não gosto de acreditar em coincidências, talvez eu tenha crescido em um ambiente que me formou assim, mas realmente acho que tudo e todos acabam tendo um propósito, mesmo que idiota, mesmo que tiremos esse propósito alheio do fundo de nossas almas como forma de nos confortarmos quanto à presença avassaladora de tais pessoas em nossas vidas, mas é inegável que algumas pessoas vêm de forma passageira, como um furacão, incentivando-nos apenas a ocasionar certa mudança naquela mesmice que já nos fazia mal há tempos.
Também mudei conforme uma pessoa surgia na minha vida. Também amei essa pessoa de maneira tão complexa quanto Tom amou à Summer; talvez eu tenha amado apenas a bagunça que essa pessoa deixou na minha vida, talvez eu tenha amado apenas a complexidade de sentir. Vou dizer pela minha singela perspectiva juvenil: acho que ele realmente amou ela, mas ele não percebeu onde e quando o amor deles haveria de parar pois não era algo que de fato era para ser fixo, era para ser passageiro. Ao contrário dele, eu percebi. Também, não tinha como não perceber, é tão óbvio. Enquanto Tom teve ao menos uma chance, eu tive apenas ilusões. Nós separamos nosso caminho entre personagem fictício e garota da realidade aqui. Ele tinha realidades e ilusões, eu tive apenas ilusões. Apesar de tudo isso, minhas ilusões e minha mente me levaram à atribuição de um pensamento muito bom, tanto quanto nosso querido protagonista e disso eu tenho certeza. No início eu não me conformava com a realidade, ela é um saco, é desgastante e eu queria acreditar que de alguma forma tudo que eu sentia era fixo, que iria se manter para sempre e que seria recíproco, mas não era e nunca vai ser. Ainda quero acreditar em algo, um feixe de esperança mínimo, não vou negar, sou daquelas que acreditam que a esperança é a última que morre. Mas eu não quero acreditar que a pessoa é para sempre, mas sim os sentimentos que ela me causou, a experiência, as sensações, a felicidade, o amor, a tristeza, o ódio e o conhecimento que essa pessoa divulgou comigo durante todo esse tempo (muito mais que o Tom e a Summer, diga-se de passagem) são infinitos, intermináveis.
Se tem uma coisa que não some são as sensações. As memórias podem esvair para o fim do mundo, mas as sensações, mesmo que poucas, que nos foram causadas ficam para sempre e eu sou uma grande e ridícula prova disso.
Quero fielmente acreditar que eu não preciso achar a minha Autumn para ser feliz, mesmo que eu deseje mais que tudo. Também tenho medo de acabar buscando a Summer em outras pessoas e saber que nenhuma delas vai chegar aos pés da minha pessoa amada. Não quero jogar as minhas expectativas em outra pessoa, mas também não vou negar que sentir tudo que eu sinto mais uma, duas ou três vezes seria maravilhoso, mesmo que com alguém diferente. É estranho pensar que eu não vou amar ninguém da mesma forma com que eu amo a minha Summer; eu não acho que a gente ame as pessoas todas da mesma forma, mesmo que estejamos falando do mesmo tipo de amor. Eu acho que a gente não pula num mesmo rio duas vezes e sou daquelas que não gosta de fazer a mesma coisa mais de uma vez por pensar que isso vai apagar a memória da primeira vez. Deve ser por isso que eu quero sentir o que sinto para sempre, pra não substituir de alguma forma o meu primeiro amor. Mas como é que algo tão importante assim pode ser substituído? Quero dizer, é a minha primeira experiência com esse sentimento, o lógico a se pensar é que as primeiras experiências não são esquecidas, mesmo que outras venham logo depois. Vejam só quantos anos se passaram desde que o homem foi para o espaço pela primeira vez, mas essa aí, justo essa, nunca foi esquecida.
Então por que é que eu insisto tanto na ideia de que isso vai passar se outros amores me acontecerem? Por que é que eu quero tanto insistir na Summer sabendo que ela não é pra mim e que eu não posso ter ela, enquanto a minha Autumn pode estar ali do meu lado?
Que saco! Se nem eu me entendo, quem em sã consciência vai ser capaz de me entender? Só Freud, e apenas ele, pode explicar o que se passa na minha cabeça. Se a Ciência estudasse a frustrante complexidade da mente de Duda Camargo eles conseguiriam uma nova enciclopédia psicológica, com toda certeza.
Enfim, foram curtas anotações e questões que ficaram na minha mente após assistir ao filme 500 dias com ela. Nunca mais vou assistir isso, estou aterrorizada.
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