Estalácio
Há um mês, eu me mudei. Recentemente, comecei a notar alguns estalos. Inicialmente, supus que poderiam vir da madeira do chão; no entanto, percebi que esses estalos não vinham apenas do chão, mas também do teto e das paredes. Eu entendo que a casa é antiga, é natural que haja rangidos, mas havia algo estranho com isso. Conforme os dias passaram, comecei a ver, de relance, algumas figuras. Após fazer algumas pesquisas, fiz alguns rituais de limpeza espiritual, e de fato funcionaram: as aparições desapareceram por completo. Eu senti um alívio, embora não me incomodasse, afinal não é como se ninguém não tivesse presenciado algo pelo menos alguma vez.
Os estalos persistiram, embora de forma não tão frequente. Porém, um odor insuportável começou a infestar a casa, emanando do interior da escada do segundo andar. Depois de dar uma olhada, me deparei com uma cena extremamente perturbadora: um monte de ratos mortos, consequentemente infestado por formigas. Não esperava me deparar com isso. Eu gritei e me afastei, chamei um dedetizador. Enquanto ele executava seu trabalho, fui até a vizinha. "Porra Michelle!, seu gato está trazendo ratos mortos para minha casa. Você não o deixa na sua casa? Eu gosto dele, mas caramba." Ela discutiu comigo por cerca de vinte minutos. A cada passagem sob aquela escada, sinto a necessidade de passar um aromatizante, mas o odor persiste, isso me causa ânsia.
Passadas aproximadamente duas semanas, o gato da Michelle desapareceu. Toda vez que ela me avistava, ela prontamente me acusava, insinuando que o machuquei. Além do ressentimento, sinto uma compaixão por ela. Perdi meu cachorro há um pouco mais de um ano, e embora ainda me doa , minha casa não me parece tão solitária, me sinto observada.
No dia seguinte, ouvi um som alto vindo da sala de estar, parecido ao de vidro quebrando, fiquei eufórica. Acreditei que tinha alguém ou algum animal dentro da minha casa, peguei meu celular, que estava com 3% de bateria. A energia acabou assim que conectei o cabo do carregador. O susto que eu levei parecia intensificar os estalos cada vez mais. Decidi ir para a cozinha o mais rápido que eu conseguisse para buscar velas, o ranger do armário ao abrir-lo me fez tremer afinal o barulho me denunciava. A escuridão pareceu-me observar, enquanto eu permanecia incapaz de identificar o desconhecido. Corri em direção ao meu quarto, tropeçando no caminho. O gato da vizinha estava imóvel sem vida jogado no chão, e enquanto eu levantava e ia em direção ao quarto, os estalos continuavam, agora vindo do teto. Me apoiei na cama e olhei pela janela. Minha casa era a única sem luz; a rua, deserta. Peguei as chaves na estante, os estalos estavam atrás de mim agora. Me virei lentamente, determinada a terminar esse tormento, me virei com tudo na metade do caminho. Me deparei com uma figura humanóide, os estalos emanavam de sua boca, ele suplicava por comida, enquanto babava incessantemente, preste a se satisfazer. Eu não reagi, as luzes se reacenderam.
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