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Category: Writing and Poetry

Pensamentos sobre aniversário

Eu não gosto de fazer aniversário.

Eu gosto da data, da ideia dela. Eu gosto de ter as pessoas que gostam de mim a minha volta. Eu não gosto de ficar emotiva durante os 7 dias anteriores ao meu aniversário; chorar e chorar enquanto lembro de tudo que eu já passei, das pessoas que eu perdi, das pessoas que eu amo que eu queria que estivessem comigo, mas não estão.

É um sentimento agonizante. Não envelhecer, isso é bom, é como tornar-se uma nova pessoa sem mudar tanta coisa em si, mas é algo que dói. Cada vez que o tempo passa, menos tempo eu tenho pra amar tudo que eu quero. Eu sempre falo de amor, chega a ser ridículo, mas eu sou tão envolta em amor que ele mesmo me sufocou por anos e anos e hoje eu finalmente aprendi a lidar com o amor que eu tenho preso entre minhas cordas vocais, louco para sair em forma de um grito, de uma canção, ou de uma frase idiota recitada em um momento idiota.

Sou sufocada pelo desejo amargo de viver todos os dias e sufocada pela tristeza da presença da morte ao meu lado constantemente. Ela não é uma velha amiga, é uma praga que me atazana desde jovem, muito, muito nova.

Embora meu aniversário seja o dia em que eu nasci, o que eu mais penso antes e durante ele é sobre a morte. Não deveria ser assim, eu acho. Pensar em morrer, sabe? Vi que as pessoas normais não pensam nisso. Eu penso em todos os momentos, mesmo que eu esconda. Ela sussurra as vezes em meu ouvido nos meus momentos mais indecisos, sentidos e loucos em agonia e vontade de ter alguém do meu lado; me diz que já valeu a pena, que agora seria minha hora de acompanhar ela e deixar tudo pra trás. Como é que eu poderia deixar o amor pra trás? Pela primeira vez na vida eu amo e eu quero sentir isso ao máximo, o tanto que der. Amo com força a vida, amo meus amigos e minha família, amo alguém que eu não deveria amar da forma que amo, mas eu lhe amo e ainda admitirei isso, mesmo que no meu último instante.

É estranho estar com 16 anos, não por envelhecer, mas por estar viva, por ser eu, por ter consciência. Consciência, é uma palavra linda (Em alemão, Gewissen. Em latim, conscientia). Eu lembro-me de quando ganhei consciência. Foi uma manhã bonita, gélida, senti o cheiro do frio beirando a ponta do meu nariz, tocando-me pela primeira vez depois de anos. Meus olhos repousaram diante da figura exposta à linda luz do Sol matinal, e a figura trouxe a mim a maior luz que eu poderia receber naquele dia ansioso e curioso, trouxe-me a chance de pensar como eu pensava outrora. Foi como o Alberto Knox tirando a Sofia de debaixo do pelo do coelho dentro da cartola, livrando-a daquela ilusão que ela vivia. Acho que foi nesse momento que ganhei consciência, quando me arrancaram com um olhar da cartola em que eu vivia e me colocaram de frente com algo, não sei o que, e isso me transformou no que eu estou me transformando hoje.

16 anos. Estou no planeta Terra desde, teoricamente, 2008. Se não contarmos o fato de que eu estava no útero da minha mãe antes mesmo de ela sequer pensar em ter filhos, eu estou aqui há tanto tempo que nem consigo imaginar. O tempo é uma loucura, não faz o menor sentido. Não o vejo passando, pra mim continuo a mesma, tudo é igual, nada mudou o suficiente para eu apontar e dizer: Oh! Uma mudança! Me olham e dizem que eu mudei, não sei se foi para bom ou ruim, mas eu mudei. Só notei isso, que eu não sou mais o que eu era e que agora eu sou eu.

Devia dizer tchau para o meu eu de ontem, coloquei para você ouvir sua última música favorita pela última vez. A última vez que o meu eu de 15 anos ouviu sua música favorita foi após o banho, após usar seu ridículo hidratante com cheirinho de chiclete, vestir uma roupa bregamente brega e sentar-se na cama diante do espelho de olhos fechados ouvindo uma última vez aquela música que decidira quando mais nova que era a favorita. Obrigada eu do passado, por deixar o meu eu do futuro tão emocionada com algo banal.

Despeço-me dos meus 15 anos, do meu corpo e mente desde tempo que me carregaram durante um ano inteiro e me moldaram para eu evoluir ainda mais. Digo olá para o meu eu de 16 anos, vamos aproveitar nossa caminhada juntos, vamos ter que nos suportar por muito tempo. Continue gostando de Skank, não esqueça The Smiths, dance ouvindo Elvis, assista seus filmes favoritos, não esqueça de ler muito.


Com amor, você mesma.

Feliz aniversário


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