O clube dos invisíveis

tem um clube que vc só sabe da existência quando você entra, o clube dos invisíveis. E quando você entra você jamais vai conseguir tirar os efeitos causados em você, não importa se você sair da invisibilidade, você ainda notará o clube dos invisíveis a sua volta.

Passei a creche toda participando do clube dos invisíveis, eu era o único membro.

Há dois anos eu estive no clube dos invisíveis, e eu percebi mais dos membros, os participantes. Os que ninguém percebe, as pessoas no canto dos corredores, sentadas olhando para baixo, Sempre para baixo. Os humanos que você passa, mas não percebe que passou por eles. Os invisíveis. Este ano eu saí do clube, mas sei que ele virá me buscar em algum momento. Ele sempre volta para nós, os invisíveis. Você pode nunca ter feito parte dele, mas em algum momento você vai entrar. 

Os membros são aqueles que ninguém nota, aqueles que ninguém fala e que ninguém concede compaixão. Aqueles que se sentem totalmente invisíveis. Os que ficam sozinhos em todos os momentos do dia, mesmo estando ao redor de muita gente. Os que não recebem bom dia, nem que estão em nenhum grupo. Os que estão em silêncio e com a garganta dolorida. Os que observam as pessoas normais enquanto desejam fazer parte da normalidade, mas elas pertencem ao grupo dos invisíveis, e elas não podem sair dele.

Eu saí momentaneamente, sei que entrarei de volta a ele em breve, é uma consequência da minha existência. Mas apesar de ter saído, eu ainda reconheço os membros do clube. Na minha escola tem uma garota, uma criança ainda. Tão nova e já parte do grupo. Ela é invisível. Sentada sempre ali, na parede da minha sala nos recreios, sozinha. Ela tem sempre um olhar melancólico e carrega sempre consigo sua garrafa. A garota invisível nunca fala nada, nem sei como é sua voz, mesmo que eu saiba da existência dela desde o ano passado. Todos passam por ela e não falam nada, mas ela está lá, sei que está pois eu a percebo. Todos nós que somos invisíveis conseguimos ver os outros invisíveis. Eu a notei, eu a vejo todo dia. Eu acredito na sua existência. Ela é parte do clube, igual a mim, e por ela sinto empatia. Eu e ela, pelo que percebo, somos os únicos membros do clube na minha escola. É triste. Muito triste. Mas não podemos sair. Nunca poderemos. Queria chegar nela e conversar com ela, sinto medo de que ela faça algo ruim contra si mesma, pois o olhar no rosto dela é muito triste. Mas tal a ela, minha voz foi roubada. Sinto medo dela não achar que pertence ao clube, de ela gostar da sua invisibilidade. Mas sinto medo por ela. Tão jovem. Tão igual a mim. Provavelmente tentarei a puxar de sua invisibilidade, fazer com que ela saiba que ela ainda existe, que não sumiu completamente. Vou começar elogiando-a. Ela precisa saber que existe, igual eu precisava. Sinto medo de que o clube dos invisíveis leve-a para sempre da realidade visível. De que ela vá para longe, tão longe que mais ninguém poderá vê-la. Eu senti medo de que isso acontecesse comigo. Não posso deixar que o clube leve mais ninguém. Somos tão poucos... mas apesar de poucos, não somos invisíveis.

Você também faz parte do clube? Se faz, saiba que nós, os invisíveis, ainda lhe enxergamos. Eu lhe enxergo. Eu sempre reparo nos que estão sozinhos.