Você provavelmente viu o novo lançamento do McDonald’s com a Hello Kitty e, curiosamente, ele tem feito mais sucesso entre adultos do que entre crianças. Esse fenômeno não é isolado. Basta olhar para o surgimento dos “Bobbie Goods”, o chaveiro Labubu, ou até mesmo o retorno da estética boho chic, que dominou os anos dourados do Coachella e agora voltou com tudo nas tendências de moda. Até o ressurgimento de plataformas como o SpaceHey, que imita o antigo MySpace, aponta para um sentimento cada vez mais presente, especialmente entre os jovens da Geração Z: a nostalgia.
E talvez esse apego ao passado não seja apenas uma moda passageira, mas uma tentativa de resgatar o que fomos em uma época que parecia mais leve. A diferença entre a nossa geração e a dos nossos pais começa já na infância. Fomos, possivelmente, a última geração a experimentar coisas simples e genuínas, como brincar na rua até anoitecer, visitar a casa das amigas para brincar de boneca, e acompanhar programas infantis em horários específicos, como a clássica TV Globinho ou os conteúdos do Disney Channel.
A tecnologia só avançava e se aprimorava. O acesso à informação se tornava cada vez mais fácil, assim como a possibilidade de interagir com os amigos. Conforme íamos crescendo, o mundo à nossa volta também se transformava. As revistas ainda existiam, mas assim que tive idade para acessar a internet, comecei a procurar tendências em blogs de moda. Sempre tive interesse por esse universo, e logo comecei a desejar ter o guarda-roupa das blogueiras que acompanhava. Mas, na época, minha condição financeira era limitada, além do fato de eu ainda ser uma criança, e nem tudo combinar com a minha idade ou fazer sentido para mim.
As músicas daquela época eram incríveis, e eu lembro bem de acompanhar canais dedicados exclusivamente a esse tipo de programação, como a MTV e a Mix TV. Foi por meio deles que descobri artistas como My Chemical Romance, David Guetta, Ke$ha e tantos outros. Eu sonhava com o dia em que cresceria e finalmente poderia ir a festas onde essas músicas tocassem. Sem contar as mídias físicas, que sempre me encantaram. Eu ficava completamente fascinada toda vez que entrava nas Lojas Americanas e via aquelas prateleiras cheias de CDs, DVDs e até encartes de revistas. A última vez que estive em uma loja comum com CDs à venda foi em 2016. Depois disso, só voltei a ver esse tipo de mídia em espaços mais nichados, como lojas especializadas, tipo as da Galeria do Rock, ou perdidas entre relíquias em brechós.
As amizades pareciam mais descomplicadas. Os namoros eram vividos com mais presença, menos filtros e comparações. Quando acontecia um término, o conforto vinha de uma conversa sincera com as amigas, em vez de vídeos de desconhecidos no TikTok dando conselhos genéricos (os famosos coaches de relacionamento). Era tudo mais íntimo, mais real, com menos interferência externa. Nossos familiares mais queridos, como os avós, ainda estavam vivos, e o mundo, de certa forma, parecia mais mágico, como se ainda existisse cor nele. E existia mesmo, antes da chamada “crise estética do minimalismo” apagar tudo em tons neutros. As empresas sabem exatamente disso. Em um cenário marcado por guerras, preconceitos cada vez mais escancarados, sentimento constante de insuficiência, um mercado de trabalho saturado e cidades à beira do colapso, voltar ao passado, mesmo que só simbolicamente, virou a forma que a Geração Z encontrou de não surtar.
Até porque, o simples ato de lembrar do passado já traz um conforto único, muito diferente da ansiedade que o futuro pode gerar. Com a internet e a inteligência artificial avançando tão rápido, fica cada vez mais difícil imaginar o que vem a seguir. Não temos tempo para nos adaptar a uma novidade antes que outra já apareça. Tudo acontece de forma rápida, instantânea. Então, o simples ato de revisitar memórias do passado funciona como um refúgio, trazendo uma sensação de segurança e familiaridade em meio a um mundo cada vez mais acelerado.
É aí que entram as marcas como a Kopenhagen, que lançou o ovo de Páscoa da Moranguinho (e que, confesso, me senti super tentada a comprar). Elas entendem o poder emocional da nostalgia e sabem usá-lo de forma estratégica. Não se trata apenas de vender um produto, mas de vender um sentimento: o gosto da infância e a lembrança do cheiro. Se você entrar hoje em lojas como a C&A ou a Renner, vai perceber algo em comum: araras recheadas de camisetas estampadas com séries, bandas e artistas que marcaram a nossa infância e adolescência: Hannah Montana, Gossip Girl, Avril Lavigne, Charlie Brown Jr., Friends e etc. No cinema, esse movimento nostálgico também se manifesta com força. As continuações estão em alta, como O Diabo Veste Prada, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda, O Diário da Princesa, entre outros. Além disso, vemos o retorno constante de personagens clássicos, como o Superman, e uma enxurrada de live-actions da Disney, que resgatam contos infantis sob uma nova ótica, mas sempre com aquele apelo emocional.
Tudo isso é marketing. As marcas e a indústria do entretenimento identificaram esse padrão comportamental na Geração Z e nos Millennials e estão usando a nostalgia como uma estratégia poderosa para alavancar vendas, aumentar o público nas salas de cinema e, acima de tudo, criar conexão emocional com o consumidor. É o capitalismo se apropriando da memória afetiva, e a gente, muitas vezes, comprando esse sentimento. No fim das contas, é isso que une todos nós aqui: a nostalgia. Essa vontade quase ingênua, mas profundamente humana, de voltar para algum lugar onde nos sentimos seguros, felizes, ou simplesmente menos sobrecarregados. É essa mesma nostalgia que me fez escrever em um blog, algo que eu sempre sonhei na infância e que agora, de certa forma, me permite resgatar essa versão mais leve de mim.
Até mesmo as festas mais viralizadas atualmente, como as do Edifício Martinelli, mergulham nessa onda nostálgica. A trilha sonora? Hits dos anos 2000, como os clássicos do Summer EletroHits. E lembra das mídias físicas que citei anteriormente? Pois é, o movimento não para por aí. Cada vez mais pessoas têm se dedicado a colecionar CDs e DVDs antigos, como forma de resgatar não só objetos, mas momentos marcantes da adolescência e juventude.
É… no fim das contas, estamos mesmo vivendo pelo passado. Nos vestimos com ele, dançamos ao som dele, consumimos produtos que o recriam e nos emocionamos com qualquer coisa que nos faça lembrar. E, sinceramente? Acho que isso ainda vai durar por um bom tempo :3
De Jacque Quintela <3 <3 <3
Comments
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miss nosebleed 🇧🇷
me senti lendo uma coluna na revista capricho da minha irmã mais velha!!
ser a caçula com uma irmã 8 anos mais velha foi o que me impediu de perder tudo isso. mesmo que eu seja de 2006, eu não teria consciência o suficiente para conhecer britney spears, avril lavigne, justin bieber, restart, nx zero, selena gomez & the scene, one direction e entre outros milhares ícones da época.
lembro de quando ela ganhou um mp4 (que era rosa!!) e meu pai teve que comprar um pra mim também kkjkk lembro de tirar foto e gravar vídeos na cybershot, de ver ela jogando fazendinha no orkut (eu cheguei a ter uma conta lá, pq ela não aguentava mais que eu sempre ia chorar pra minha mãe pq queria jogar também, então ela criou uma só pra mim). foi graças a ela que não perdi toda essa magia.
descobri o site de jogos da barbie antes mesmo de aprender a ler, pq ela amava jogar (a gente revezava o tempo no computador, e só podia usar a noite!!)
hoje ela tem 27 anos e eu 19. ela já é casada, tem filho e é professora. acho que uso a nostalgia como um atalho para suprir a falta da minha melhor amiga ao meu lado todo dia. comprei algumas revistas capricho, assisto h2o pelo menos umas 2 vezes todo mês (e obrigo meu namorado a ver), vasculho o tumblr, tiro fotos numa câmera digital (a cybershot que nos acompanhava levou uma queda e morreu :P despedaçou toda) e escuto a discografia inteira da avril lavigne (sempre fui apaixonada por ela). isso tudo é a minha terapia, o meu conforto.
sem falar naquele futuro que foi prometido, né? o frutiger aero. eu era doida naquilo, ficava embasbacada pensando em como isso seria lindo em 2025… mas acho que não deu muito certo.
também ando garimpando brinquedos que não pude ter quando era criança, como os lps, my little pony, monster high e ever after high.
enfim, um comentário/desabafo longo para um post fenomenal. ansiosa para mais blogs da sua autoria!!
s2 s2