Gromphadorhina portentosa (Barata-de-Madagascar)

Na foto: Maria e Amora, baratas de Madagascar que tive, no braço do meu irmão.

Não poderia iniciar este blog de outra maneira senão falando sobre meus primeiros pets exóticos: baratas de Madagascar.

Mesmo já amando insetos, eu ainda tinha certo preconceito com baratas, pois só conhecia a Periplaneta americana (a famosa barata de esgoto) e, sinceramente, não tenho histórias muito legais com elas, embora reconheça sua importância no ecossistema.

Certo dia, ao visitar o Planeta Inseto, tive a oportunidade de conhecer novas espécies de baratas, como as baratas de Madagascar e a Blaberus giganteus, e fiquei apaixonada. Pesquisei mais sobre o assunto e descobri que elas também são criadas como pets. Não perdi tempo: na semana seguinte, comprei a Maria para criar.

Como ainda não tinha um ambiente adequado, improvisei uma caixa de sapato como "terrário" provisório.

Com apenas uma semana comigo, a Maria desapareceu. Procurei pela casa inteira, até cheguei a avisar os vizinhos, mas não a encontrei. Perdi as esperanças, até porque havia vários gatos e cachorros pela casa. Já estava imaginando o pior.

Em seguida, comprei a Amora, que já ficou alojada no terrário definitivo, e tudo correu bem.

Três meses após o sumiço da Maria, e já morando em outra casa, vi uma barata de Madagascar saindo debaixo da geladeira. A princípio, pensei que fosse a Amora, mas meu irmão me disse que ela estava no terrário. Liguei os pontos e percebi: era a Maria.

Reconheci pelas suas características: cor mais clara do que a da Amora, uma antena menor que a outra e, claro, seria praticamente impossível uma barata dessa espécie aparecer aleatoriamente ali.

Não faço ideia de como ela sobreviveu por três meses e, mais ainda, como conseguiu se mudar comigo. Mas acredito que tenha ficado escondida no motor da geladeira, um lugar escuro, úmido e quentinho. Provavelmente se alimentou e bebeu água no pote das minhas gatas.

Era clara a diferença entre elas: Amora estava gordinha, brilhante, bem saudável. A Maria estava fina e opaca, muito mal.

Com alguns meses, ela já ficou tão saudável quanto a Amora, como é possível notar na primeira foto.

Infelizmente, elas já faleceram. Viveram por volta de três anos e seis meses, dentro da média.

Agora, vou deixar algumas curiosidades sobre a espécie para que as pessoas parem de ter medo (ou pelo menos possam entender a importância delas na natureza).

1. Elas "assobiam"

Elas também são conhecidas como "barata-assobiadora", pois produzem um barulho quando são tocadas e se sentem ameaçadas, quando simplesmente não querem contato ou até mesmo quando querem se comunicar com outras baratas. A Maria "assobiava" o tempo todo ao ser tocada, era bem antissocial.

Elas fazem esse som através dos espiráculos, que são pequenos orifícios localizados nas laterais do corpo e utilizados para a respiração. Ao forçarem o ar para fora desses espiráculos, produzem seu som característico: um chiado bem alto.

2. Não voam

Elas não possuem asas, então não há risco de saírem voando por aí e assustarem as pessoas.

3. Vivem bastante para um inseto

Quando bem cuidadas, vivem entre 3 e 5 anos, um tempo considerável para um inseto.

4. São extremamente higiênicas

Apesar da fama de serem animais sujos, elas são extremamente limpas e evitam ambientes sujos. Costumam limpar as antenas e as patas com frequência, principalmente após serem manipuladas. E não emitem nenhum tipo de odor, nem mesmo para quem costuma sentir o famoso "cheiro de barata".

5. Possuem personalidade própria

Como já deixei subentendido em alguns parênteses, elas possuem personalidade própria. A Maria era mais tímida, passava a maior parte do tempo na toca (apesar de ter fugido) e não gostava muito de ser manipulada. Já a Amora era super curiosa e não se importava com o contato.

6. São ovovivíparas

Diferente da grande maioria das baratas, que são ovíparas (ou seja, botam ovos), as baratas de Madagascar apresentam um tipo de reprodução intermediária entre ovípara e vivípara. A mãe carrega, dentro de seu corpo, uma estrutura chamada ooteca, onde os ovos permanecem protegidos durante o desenvolvimento.

A gestação dura entre 60 e 70 dias, e elas podem ter até 60 filhotes, embora a média fique entre 20 e 30.

Os filhotes nascem totalmente brancos e escurecem com algumas horas (assim como ocorre na ecdise, a troca do exoesqueleto).

Uma curiosidade sobre a maternidade delas é que a mãe permanece perto dos filhotes nos primeiros dias de vida, um comportamento incomum no mundo dos insetos.

7. São decompositoras

Assim como outras espécies de baratas, elas se alimentam de matéria orgânica em decomposição como folhas secas, madeira morta, restos de frutas e vegetais, entre outros. Elas digerem e transformam esses materiais em matéria mais simples, que volta ao solo como um fertilizante natural.

Em cativeiro, têm preferência por frutas suculentas e doces como mamão, laranja e melancia.

Elas possuem muito mais curiosidades pois são animais extremamente interessantes, mas eu precisaria criar um blog somente para elas para falar todas. 

Espero que a história da Maria e da Amora, junto com as curiosidades sobre a espécie, tenha ajudado você a ver as baratas com outros olhos. Não precisa amar, eu mesma ainda morro de medo da Periplaneta, mas respeitar e entender a importância delas é fundamental. Se você leu até aqui com curiosidade e mente aberta, já fico feliz. Talvez isso seja o começo de uma nova forma de enxergar os insetos, não como vilões, mas como parte essencial e fascinante da natureza.

Deixo como bônus uma foto da Amora após a última troca do exoesqueleto, com idade entre oito meses e um ano.