“É um erro capital teorizar antes de ter dados. Insensivelmente, começa-se a distorcer fatos para ajustá-los a teorias, em vez de teorias para que se ajustem a fatos.”
Vivemos diante da era das informações, onde tudo (para uma boa parcela da população) está disponível a poucos cliques em uma tela ou em um mouse. Apesar disso, é nítida a presença da ignorância quanto a termos e conceitos históricos pela parte dos indivíduos engajados politicamente e até mesmo aqueles que seguem o que é dito de maneira cega.
A banalização de termos como “fascista” sendo utilizados em cenários em que sequer faz sentido a citação do mesmo tem se tornado cada vez mais presente na realidade brasileira. Não só no meio comum, como em diálogos entre pessoas como eu e você, mas entre políticos, ou seja, pessoas ativamente ligadas às questões políticas e que tem forte influência nessa área. É geralmente visto como uma ofensa, um atributo para se usar quando o outro expressa uma opinião contrária a sua, o que não possui, na maioria das vezes, fundamento algum visto que é usado por pessoas que apoiam diversos espectros políticos umas contra as outras, sem ter conhecimento do que o termo de fato significa (desde pessoas de direita a pessoas de esquerda).
Para a compreensão do uso da palavra, precisamos entender sua origem e seu real significado.
O que é fascismo?
O fascismo foi um movimento político e filosófico (no sentido de passar uma ideia, um pensamento) radical de extrema direita ou direita conservadora que surgiu na Itália em meados de 1910 e tomou o poder do país em 1922. A ascensão desse espectro político tem origem nas crises vividas pela Itália e era visto como uma forma de consertar os problemas presentes no país na época. Uma figura de grande relevância foi Benito Mussolini. Na atualidade, o termo “neofascismo” é usado para definir movimentos políticos com ideais próximos aos do fascismo. É também um movimento que se imposto, levará à uma sociedade extremamente autoritária, baseada na exclusão social, sendo elitista e fortemente hierárquico. Algumas características são a falta de pluralidade de partidos políticos, desprezo por valores que visavam a liberdade individual e a democracia representativa, desprezo por valores coletivistas, domínio de povos mais fracos, exaltação dos valores “tradicionais”, entre outros.
Como já visto, as semelhanças com o espectro de direita são muito fortes nesse viés político. Entretanto, em 2017, dúvidas sobre a real localização deste na “linha política” foi um fator que gerou frustração e dúvida na população, assim trazendo o questionamento de se o fascismo não poderia ser de esquerda também e esse questionamento foi presente principalmente diante dos apoiadores do então candidato, Jair Bolsonaro.
É perceptível um problema na sociedade a partir do momento em que há a prática de um direito político que lhe dá a liberdade de escolher quem irá governar um país e o indivíduo escolhido é alguém que simpatiza com ideologias que pregam contra a realização desse direito político, ou seja, uma ação controversa é cometida e essa claramente é alienada e não tem fundamento de um pensamento crítico desenvolvido pelo próprio cidadão, mas sim uma reflexão e comprometimento com a realização do desejo de uma outra pessoa, nesse caso, o desejo de poder de um político.
Banalidade do Mal de Hannah Arendt
A Banalidade do Mal, termo cunhado pela pensadora Hannah Arendt, tem como definição a capacidade de massificação de um comportamento social indevido ser reflexo de uma sociedade incapaz de promover julgamentos morais, aceitando ordens e imitando atitudes sem questionar antes se aquilo é devido ou não. Os indivíduos se desconectam de sua consciência moral e agem de acordo com outrem, mesmo que isso resulte em atitudes absurdas.
Análise e Conclusão
A partir disso, podemos fazer um paralelo entre as ações públicas quanto a tal comportamento e a teoria da filósofa. O uso excessivo e indiscriminado da palavra “fascista” para definir pessoas com oponiões contrárias a sua torna o significado real da palavra diluido e obscurece a gravidade do que é ser e ter opiniões fundamentadas no fascismo. Os malefícios podem se manifestar na sociedade de maneira cotidiana e banal, sem ser necessariamente algo extremo. A rotulação das pessoas como fascistas cotidianamente gera engano quanto ao real termo uma percepção de que ele não é algo tão ruim quanto verdadeiramente é. Portanto, a desvalorização e banalização de tal termo, principalmente no cenário político atual, levará a graves consequencias no futuro, a começar pela identificação de ações verdadeiramente fascistas.
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